As pessoas vão dizer-te que não és capaz. Que te falta
alguma coisa. Que não basta. Que há um milhão de pessoas no mundo iguais a ti.
Melhores do que tu. Mais focadas, mais exigentes consigo mesmas, mais
perfeitas.
As pessoas vão dizer-te que nasceste no país errado. No
continente errado. No mundo errado. Que não podes escalar as hierarquias nem
definir outras regras. Que tens de te conformar com a realidade. Vão usar as
palavras “acorda” e “põe os pés na terra”, como se acordar fosse bom e ter os
pés na terra implique que não possas ter a cabeça num mundo de sonhos.
As pessoas vão empurrar-te de opinião em opinião. Vão
atirar-te de regra em regra. Vão arrastar-te pelo chão rugoso das suas próprias
vontades.
Não duvides. As pessoas vão magoar-te, usar-te, torturar-te.
Vão tentar matar-te os sonhos, o sorriso, a vontade de lutar. E tu vais chorar,
gritar, resmungar aos ventos a injustiça da vida, como se ela não fosse óbvia e
inevitável.
Entende: o mundo não existe numa realidade só. O mundo tem
milhões de olhares. Milhões de pensamentos. E todos eles um dia sentiram a
injustiça. Todos eles um dia sentiram a dor. Talvez não a mesma dor que tu ou o
mesmo sentido de errado, mas uma dor tão válida como a tua.
Por isso, as pessoas vão dizer-te para acordares do sonho e
viveres a realidade. Tu não as vais entender. Algumas farão isso por maldade,
por inveja, por necessidade de se sentirem superiores. Outras estarão apenas a
tentar proteger-te da frieza do mundo, dizendo-te, de forma dura e directa, as
lições que aprenderam à custa de muitas quedas. E todas essas pessoas vão soar
cruéis aos teus ouvidos. Perceberás com o tempo que dói de pior forma quando as
palavras proferidas são ditas por quem se ama mais.
As pessoas. Esses bichos de florestas de betão, sem outro Deus
que não a ciência, sem outro sonho que não o dinheiro. As pessoas. Essas
vítimas que nasceram por entre as outras e perderam sonhos mais válidos pelo
caminho. As pessoas vão dizer-te para cresceres e entenderes que não podes ser
quem queres, como queres, aonde queres.
Eu não posso proteger-te das palavras. Não posso dizer-te
que não vais ouvir discursos de eternidade sobre o abismo. Não posso prometer
que não vais cair no erro de te quedares nas opiniões alheias. Mas deixo-te
isto: vou sonhar contigo, enquanto sonhares. Acreditar contigo, enquanto
acreditares. Estar lá para te dizer que também caí na crueldade da vida e que
isso não me afastou da convicção de que desejar algo é o primeiro passo.
As pessoas vão magoar-te. Vão usar balas de palavras, de desprezo,
de autoridade. E, embora eu não possa mudar isto, posso prometer-te que, venha
o que vier, eu não serei uma dessas pessoas.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Lindo, bem escrito e incrivelmente verdadeiro :)
ResponderEliminarÓptimo blog!
ResponderEliminarMuito bons textos!
Parabéns!!
Ficamos "clientes" kkkk
Bem escrito mesmo. Aliás, genial!
ResponderEliminarEstamos a ver um blog de excelentes textos, pois.
ResponderEliminarUma promessa sentida e bela. Um texto excelente e sensível.
ResponderEliminarParabéns!
Um texto bastante verdadeiro... o problema não é as pessoas que agem assim querendo verdadeiramente ajudar, mas que usam isso como arma para rebaixarem e desanimarem. Estou ansiosa pelo próximo texto! =)
ResponderEliminarAdorei esse texto, além de ser um dos meus preferidos, resume tudo o que eu queria dizer. Texto lindo Marina, como sempre, continue assim, sempre sua fã, bjs
ResponderEliminar