quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Pronomes pessoais átonos

 

Imagem gerada pela I.A.

Explicar os pronomes pessoais átonos – ou mais especificamente a sua colocação na frase, antes ou depois do verbo – deve ser das tarefas mais inglórias para qualquer pessoa que trabalhe como mentora nas áreas do domínio linguístico. Desde logo, para quem integrou os processos da linguagem de forma imediata, estes pronomes autocolocam-se no local devido, de forma intuitiva, o que é o primeiro passo para ninguém se lembrar da regra gramatical em si. E, depois, quando existem dois verbos a regra é flexível e podemos optar pelas opções mais formais ou pelas mais naturais, dando-nos a desconfiança de que os linguistas que definiram a questão já iam, por esta fase do processo, muito entrados no mundo da embriaguez. Então, na minha perceção, a melhor forma de explicar tudo isto, já depois de se ter falado da posição do verbo na frase e das palavras-chave – como não, já, ainda, também, que, quem, quando, onde, se, porque, como, enquanto... – e se de ter mencionado os nomes “ênclise” e “próclise” que, para efeitos práticos servem para... rigorosamente nada... o melhor é exemplificar com noções próximas, atuais e que sejam claras.

 

Por exemplo: Quando nos dignamos a sair de casa para ir votar, leva-nos algum laivo de esperança de que o vencedor das eleições nos possa ajudar (neste caso também poderia ser ajudar-nos) a ter uma vida melhor. Cada pessoa quer olhar-se como modelo na construção de um futuro que nos leve a melhor rumo.

No entanto, depois de contados os votos é impossível evitar um foda-se (que também poderia ser um que se foda). Ficamos todos com a clara certeza de que, para além de um SNS a autodestruir-se, de uma economia a degradar-se e de um futuro a impossibilitar-se, temos ainda de gerir um sistema ditatorial que, claramente, está a instalar-se (também poderia ser se está a instalar).

 

Li, algures por esse mundo das redes sociais e sem referência à autoria, que “as pessoas se preocupam muito com a sua aparência e nada com o seu caráter”. A frase estava Inglês, mas deixo a tradução – que não se perca um bom exemplo do uso de pronomes átonos! E eu penso que talvez, justamente por ter sido difícil perceber todas as regras de colocação pronominal, muitas pessoas não tenham decorado bem, também, os próprios pronomes e, na lista de me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, lhes, tenham simplesmente ficado pelo me. O que me interessa. O que me convém. O que me vantagem. Não é raro ouvi-lo: voto nele porque diz a verdade e me entende! Porque vai expulsar A, B e C, e isso me dará uma melhor vida. Porque vai acabar com a gatunagem e me pode ajudar a subir na vida (também possível seria pode ajudar-me).

 

Seguindo-lhes o exemplo, posso dizer que isto me parece um bocadinho limitado. Parece-me, na verdade, que isto nos vai levar para o tempo da outra senhora.

 

O IMPA deu, para hoje, um Alerta Laranja, que já vem, penso, um bocadinho fora de época. Essa tempestade já está a causar danos no país faz um tempo. Isto é o que os acontecimentos atuais nos dizem. Os políticos, esses, dizem-nos outra coisa...

 Marina Ferraz



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