Para o meu "evidentemente"
Preciso de ti. Precisas de mim. Respiramos, juntos, o ar que o mundo dá. Eu por ti. Tu por mim. Sabendo que de pouco valeria a respiração se nos faltássemos.
Preciso de ti. Precisas de mim. Respiramos, juntos, o ar que o mundo dá. Eu por ti. Tu por mim. Sabendo que de pouco valeria a respiração se nos faltássemos.
Damos passos coordenados. Nem sempre sobre as mesmas pedras.
Às vezes, vou à tua frente, puxando-te pelo braço. Às vezes, quedo-me atrás de
ti e deixo que me arrastes. Pergunto onde vamos e nunca sabes dizer. A resposta
vazia basta. Porque sei que vou contigo, seja lá onde for.
É o nosso universo. O meu. O teu. O nosso. No meu, moram as
perguntas. No teu, a espontaneidade. No nosso, a confiança que se ancora no
desejo do amanhã. Respiro-te. Respiras-me. Respiramos juntos o mesmo ar. O do
mundo. Que não nos entende. Que não nos respeita.
Preciso de ti. E tu precisas de mim. Somos dois completos
que se encaixam na perfeição. Sabes que me basto. Sei que te bastas. Mas não
chega. Queremos mais da vida do que o completo no qual se fazem fórmulas de
sobrevivência. Queremos o que mais ninguém tem.
Sejam palavras. Beijos. Abraços. Corpos dados sem pudor nas
noites de lua cheia. Ou simplesmente filmes na tela da televisão. Queremos
isto. Isto que ninguém tem. Não como nós.
Porque preciso de ti. Porque precisas de mim. Mas somos
inteiramente completos no seio da necessidade que nos move.
Tenho vinte dedos nas mãos. Escrevo com eles canções de amor
que não veriam a luz do dia se não tivesse dois corações. Não! O teu coração
não é metade do meu. O meu não é metade do teu. São inteiros. Batendo em
compassos ritmados que musicam a vida de uma forma muito peculiar.
O meu bate. O teu bate. Não há silêncios entre o bater do
teu e o bater do meu. Rodas dentadas, movendo os ponteiros da paixão. O meu
bate. O teu bate. E que o teu bata uma vez depois do meu, se puder ser.
Preciso de ti. E tu precisas de mim. Isto acontece sem
acasos nem senãos. É uma necessidade desnecessária que se estende, fluída, por
entre os espacinhos seguros nos quais ainda cabe algo além de nós. Antes amor
do que ar. Antes amor do que água. Prefiro sufocar de excessos do que de
vazios.
É um sufoco que me acorda da dormência inconstante e
insaborosa dos tempos. Lembrando a plenitude do ar que respiramos juntos, na
luta por uma coisa que é outra coisa. Diferente do permeável. Diferente do
mundo.
Preciso de ti. E tu precisas de mim. Não me falta nada. Não
te falta nada. Temos mãos. Mas queremos dá-las. Sabemos que, juntos, suportamos
mais do que a soma das nossas forças. Uma imortalidade dispersa que move as mais
pesadas montanhas de senso comum.
Temos corações. E eles batem. O meu bate. O teu bate. Na
necessidade inexplicável, preenchem os silêncios como espaços de roda dentada.
O meu bate. O teu bate. E, assim queiram os Deuses, possa o teu bater mais uma
vez depois do último pulsar do meu.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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