terça-feira, 16 de setembro de 2025

A ministra

Imagem gerada por IA

 

Inteligência artificial. Eis um tema no qual a minha opinião – valha-me, pelo menos, a santa consistência – nunca mudou. Parece-me uma péssima ideia, baseada no otimismo tosco de quem dormiu nas aulas de História. Acho que o risco que traz é maior do que os benefícios... ainda que os benefícios – já o sabemos de cor – possam ser todos muito válidos e relevantes.

 

Atrás das invenções e avanços, entendam, está a figura imperfeita do homem. Esse ser incorrigível que já subverteu demasiados “milagres” para os transformar em novos níveis de inferno. Lembremos que a energia nuclear visava a energia limpa e não a militarização. O mesmo dizemos dos drones, do GPS, dos fertilizantes químicos, ou da tecnologia espacial, hoje tão profícua no lançamento de mísseis balísticos intercontinentais... Isto, claro, para não falar na esperança médica na engenharia genética, na biotecnologia, na impressão 3D... tantos exemplos que enumerá-los daria, por si, um artigo vasto.

 

O ser humano tem a capacidade e o dom de perverter tudo o que podia representar progresso, de o transformar numa arma capaz de destronar até as poucas alegrias que ainda sobram. O homem atrás da máquina não é feito da esperança que a criou. O homem é, por vezes, naturalmente inteligente, a ponto de esconder o quão artificial é nos seus intentos.

 

Tenho observado os efeitos dantescos da normalização do uso da inteligência artificial. Talvez um pouco mais por senti-los na pele. De um momento para o outro – que devagarinho não foi! – reduziu o fluxo de trabalho e o quanto os clientes se dispõem a pagar por ele. Acusações do uso indevido das novas tecnologias surgem do nada. Desconfiança de responsáveis e clientes aumenta. Fala-se de que a inteligência artificial é, agora, artista. Escreve, compõe, pinta... Escapa a quem o diz que a arte é processo e não produto. Quanto se perderá – pergunto – se a arte perder a alma? Se o artista deixar de existir para colocar nela o pó dourado das suas lágrimas e dos seus esforços e do seu olhar sobre o mundo?

 

A minha opinião nunca mudou. Acho que, num mundo cada vez menos humano, caminhamos – irreversivelmente – para a nossa própria destruição. A minha opinião nunca mudou. Mas, há cerca de uma semana, tremeu... Tremeu por isto: A Albânia nomeou recentemente Diella, uma ministra gerada por inteligência artificial. Esta falsa ministra – não confundir com as ministras falsas – faz parte do novo executivo nacional albanês e pretende-se, com a sua integração, garantir que os contratos públicos estão livres de corrupção. Ora. Primeira reação. Pensei que era fake news, essa outra praga do nosso quotidiano, através da qual, de repente, imaginamos o Presidente da República a provar um cheeseburger numa visita oficial ao estrangeiro ou temos imigrantes a receber subsídios milionários... Depois, encontrando a mesma informação em incontáveis sites noticiosos de alegado prestígio e seriedade – foco no alegado – resignei-me com a veracidade da notícia. E sorri...

 

Depois de sei lá quantas notícias de estudantes que usaram esta tecnologia para não aprender nada. Depois de sei lá quantos artistas a queixarem-se de como se sentem roubados na sua arte. Depois de sei lá quantos dias a desesperar porque o trabalho não chega e nos estamos a descobrir substituíveis... Finalmente uma área de integração da inteligência artificial que pode oferecer alguma utilidade efetiva ao mundo. Na política, qualquer forma de inteligência é bem-vinda. Na política, julgo... pior do que está, não fica.


Marina Ferraz




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1 comentário:

  1. Certamente nossos impulsos nos levam a um caminho de autodestruição. Essa crença cega no progresso. Um "hegelianismo" infantil. A ideia de que a junção cega e incompreensível das ações dos homens faz a história ou é o espirito que guia a história. A narrativa de que a história caminha para libertar a humanidade. São tantos os contraexemplos que não podem ser mais encarados como exceções. Ou seja. vou, por exemplo, relegar minha organização financeira a uma maquina pra racionalizar e ter mais dinheiro e quando a maquina ficar com todo o meu dinheiro me revoltar. Ou não, afinal são os novos tempos. Não vou deixar que acusem de ser antiquado, contra a modernidade,

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