Ando desinspirada. Não sei se é da chuva. Não sei se é do nevoeiro. Não sei se é reflexo do mês incrivelmente longo de Janeiro. Não sei se é dos conteúdos que continuam a cair-me no colo e que quero ignorar, mas não consigo. Não sei do que é! Sei que tenho muito para dizer. Demasiado. E não faço ideia de como dizê-lo sem parecer o disco riscado do costume, a dar palmadinhas na mão das pessoas como quem diz “ai, ai… olha que ser fascista faz mal à Liberdade. Temos de ser bons meninos. E de pensar nos outros.”
Quero escrever. Mas escrever é um ato de rebeldia. As palavras são indisciplinadas. Fazem motim nas frases dos meus textos. São tão violentas que, por vezes, preciso de controlar o dedo – o indicador da mão direita, como não podia deixar de ser - para não censurar os sentimentos que teclei antes de pensar, e que ficaram à esquerda do cursor que pisca, à espera que lhe diga qual a letra seguinte.
O que tenho para dizer não nasce em mim. Nasce em publicações e em vídeos repugnantes, de seres humanos que não merecem a designação, e que acordam o conservadorismo exacerbado com palavras de ódio agarradas ao politicamente correto. Dou por mim a odiar os conteúdos, os vídeos e as pessoinhas que os fazem. E o conservadorismo. E o politicamente correto, também. Mas eu não sou pessoa de ódios. E dói-me no peito quando percebo que não o é. Nem ódio, nem raiva, nem rancor. É medo… Onde vamos? Pergunto. Não há resposta. E tenho medo desse silêncio.
Palavras que não merecem ser repetidas – mas que é preciso repetir, para que se saibam - informavam os portugueses, há dias, de que as crianças estão a ser subvertidas pelos conteúdos sexualizados das escolas e que se transformam em “nem homens, nem mulheres, uma coisa estranha que não sabemos bem o que é”. Dou por mim a imaginar crianças que me saíssem do corpo. Crianças que poderiam ser quem fossem, porque não creio que julgasse identidades ou sexualidades ou escolhas de vida. Mas, depois, lembro-me de que alguém pariu aquela besta. E dá medo até disso. De parir. Fascistas. Mais fascistas, num mundo onde os media anunciam que 19% das intenções de voto já são neste tipo de pensamento-embalagem, que fica dentro da caixinha mais pequena de todas as micro-caixas.
Ando desinspirada. Peço aos meus seguidores de Instagram que me deem títulos. Uso-os. Como usei este, de alguém que certeiramente identificou o problema que motivou o meu pedido. Falta-me inspiração para um título. Não porque me falte tema. Mas porque sei que erodiria o teclado se começasse a falar, sem foco, sem direção, sem limite, de tudo o que me perturba.
Os debates políticos levam entre 25 e 30 minutos. Os comentários políticos e os comentários aos comentários políticos levam horas e horas. Se eu tivesse tempo de antena para falar de tudo o que me incomoda, a televisão viraria peça de museu e até o streaming já teria passado à história quando eu me calasse.
Se tenho um título para isto? Não tenho. O que se está a passar é inominável.
E assim fica a habitual palmadinha na mão. “Ai, ai… olha que ser fascista faz mal à Liberdade.”. Mas com um título fixe. Que não é meu.
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