Já chega, princesa. Deixa os sapatos na escada mesmo e não
fiques à espera que tos levem à porta, com um anel de noivado. Despe esse
vestido que te prende os movimentos e não te deixa respirar. Solta os cabelos.
Vai correr. Fugir da suposta perfeição do teu rosto pálido e da luz inigualável
dos fios dourados que te adornam a face, onde os olhos azuis como safiras
refletem o céu e os lábios escarlates têm a pureza das pétalas de rosa. Tens de
fugir. Fugir do que te fizeram os teus antepassados e do que te fazem os teus
companheiros de viagem, neste tempo sem finais felizes.
Precisas de entender: dentro de ti há mais do que cabelos
louros ou olhos azuis. Tu sabes. Tu pensas. Tu acreditas. E é maravilhoso.
Porque tu podes ser quem tu quiseres, sem seguir as normas que te impõem.
Há mundos além do teu mundo e amores além do teu amor. Não
queiras vergar-te aos pés de ninguém. De costas direitas e de rosto erguido. De
braços cruzados sobre o peito. De sobrolho franzido. Pedindo explicações. Podes
fazê-lo. Não sejas somente o reflexo das amarras invisíveis desse reino sem
magia. Sê quem tu quiseres. A menina pacata ou a aventureira sem medos. A
esposa calada ou a mulher rebelde. Ninguém pode ditar quem deves ser. Por isso
sê-lo. Sê quem tu quiseres.
Mas, primeiro, larga essa rigidez. Solta o corpete.
Liberta-te da obediência cega. Foge e olha em redor. Vê o que não te deixaram
ver. Entende que te cegaram. Compreende! Ninguém vai viver a tua vida. Ninguém
pode exigir que vivas um destino predefinido.
Já chega, princesa. Chega de ensinares às crianças que o
amor é a meta e o casamento a recompensa. Chega de sorrisos em vestidos brancos
e de bebés com cheiro a caramelo, em roupinhas azuis e cor-de-rosa. Diz-lhes a
verdade. A verdade sobre como o amor tem altos e baixos, sobre como o casamento
é um contrato num papel que não define sentimentos, sobre como perdes noites em
claro sem dormir para cuidar dessas crianças. Diz-lhes que, por vezes,
desejavas ter tido melhor sorte, a sorte de te bastares.
Já chega, princesa. Chega de destinos pré-feitos, de roupas que
te prendem e te limitam, de meias palavras, ditas com doçura. Cria o teu
destino. Segue o teu caminho. Entende: não há nada de mal com o amor, ou o
casamento ou a maternidade. Mas, se for esse o caminho, que o seja porque o
queres e não porque o achas mais certo.
Já chega, princesa. Já chega de seres chamada de princesa.
Segue o teu caminho e sê mulher!
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Eu adorei,é lindo,parabéns Marina
ResponderEliminar-Jennyfer Aguillar
SIMPLESMENTE MARAVILHOSO <3
ResponderEliminarÉ, para mim, um dos melhores, senão o melhor texto que já li aqui! Fala a verdade, verdadeira. Das nossas mulheres, do dia a dia. Continua!
ResponderEliminarWool é isso.
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