Às vezes, gostava de ler os teus pensamentos. Como um livro.
Imagino-os escritos, impressos, negros e delineados, nas folhas amarelecidos e
gastas dos anos. Imagino-os ondeando por entre o aroma a papel antigo que paira
nas alfarrabistas menos conhecidas. Não acho que os teus pensamentos pudessem
fazer parte de outras obras. Acho que teriam a idade dessa alma velha que
carregas dentro do recipiente jovem do corpo com o qual te encontrei - ou
reencontrei,
Quando os teus olhos pousam em mim e eu não te devolvo o
olhar, pelo que pensas que nem noto. É nesses momentos que gostava de folhear o
teu pensamento. Saber como me vês, se me compreendes, se, secretamente,
ponderas também como seria bom poderes ler o meu pensamento.
Não sei com que palavras pintas o retrato do que os teus
olhos encontram nesse olhar subtil sobre o meu semblante. Sei como eles
brilham. Porque é que brilham? Fico a perguntar se me vês ou se vês somente o retrato do que eu poderia ter sido. Não mereço o brilho dos teus olhos azuis.
Mas, Deuses, dava uma vida para conhecer as nuances que te permeiam a mente
quando olhas para mim.
Às vezes, gostava de ler os teus pensamentos. Como um livro.
Vê-los pontuados com exclamações e interrogações e reticências. Saber os tempos
verbais e os complementos - oblíquos ou não - que os atravessam. De os
respirar, compassando a leitura com o bater do meu coração caótico e arrítmico.
Talvez os teus pensamentos nem me dessem respostas firmes.
Talvez fossem somente o incentivo de cem outras questões. Mas gostava de os
ler. Lê-los seria como descobrir a escada para um segredo escondido num lugar
distante. Uma consciência sã de que, se chegar a ti, talvez possa perceber-te
até ao mais ínfimo grão de poeira.
Olho pela janela. Sinto os teus olhos presos em mim e sei que
eles brilham. Não te devolvo o olhar. Deixo que olhes, perdido nesses
pensamentos que só tu conheces.
Às vezes, gostava de ler os teus pensamentos. Como um livro.
Mas os pensamentos prendem-se em ti e perdem-se no vazio que nos separa.
Ignoro-os. Aproximo-me. Bebo do brilho dos teus olhos. Faço dos meus
pensamentos som. Digo que te amo. É um pensamento velho, como a tua alma e a
minha. Mas nunca fica gasto. E isso é tudo o que importa.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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Muito delicado!
ResponderEliminarUma escrita soberba Marina. Gostei muito deste texto.
ResponderEliminarUm texto realmente muito bonito,a escrita é leve,simpática e preciso mostrar a uma pessoa especial,porque é como se fosse escrito para ele hehe.
ResponderEliminarLindas palavras :D
Beijinhos Jenny ^.^