Todas as noites ele chorava. E ela levantava-se de um pulo.
Percorria o corredor em surdina. Entreva no quarto. Beijava-lhe o rosto. E
perguntava: " O que foi, meu amor?". Ele sentava-se na cama.
Contava-lhe a história. O sonho. E terminava com a frase. Sempre a mesma.
"Tenho medo, mamã".
Pacientemente, ela sorria. Estendia-se na cama ao lado dele.
"Isso é porque és corajoso", dizia-lhe "Sem medo, não pode
existir coragem". Adormeciam os dois. Todas as noites.
Todas as manhãs lhe diziam. "Devias deixá-lo chorar.
Assim, nunca vai habituar-se a dormir sozinho". Todas as manhãs ela selava
o conselho com um beijo e um sorriso breve que prendia à total ausência de
resposta.
E chegava a noite. O choro. A corrida. A história. O abraço.
O sono. O aconchego contente do que é presente e completo.
Mas, um dia, o choro não veio no cair da noite. E ela, que
pacientemente aguardava em silêncio, começou a ouvir o tic-tac de todos os
relógios da casa, da rua, do mundo, procurando algum sinal de lágrimas no
quarto ao lado.
O choro não veio. O tempo passava. E sentiu os olhos
repletos de lágrimas. Ele estava a crescer.
"Por que choras?", foi a pergunta ensonada que
ouviu. Não contou a história. O sonho. A forma como custava ver o seu bebé ser
menino e saber que amanhã seria homem. Os adultos não eram bons a contar esses
contos de enredo parco, todo escrito em linhas de luz pela mão da alma.
Tudo o que disse foi: "Tenho medo". E tinha.
Então, levantou-se, percorreu o corredor em surdina. Entrou no quarto.
Beijou-lhe o rosto adormecido. Estendeu-se na cama ao lado dele. E pensou:
"sem medo, não pode existir coragem". Adormeceu com o medo. A coragem
viria, talvez, amanhã.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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Achei muito bonito,pelo fato de ter todo o cuidado com a palavras e me fazer imaginar a cena.Todos os dias quando temos medo,de alguma forma nos sentimos mais corajosos e realizamos coisas que pensamos ser impossíveis :)
ResponderEliminarBeijinhos Jenny ^.^