São. Rosas. Senhor.
Sementes de bondade. É isso que se esconde nos bolsos das
pessoas. Que obrigam o rosto a ser sério. E os passos a ser mecânicos. E o
pensamento a ser mudo. Cavam nos bolsos espaços onde atiram. Sementes. De
bondade. Ninguém quer ser bom. Toda a gente sabe que o mundo não é dos bons.
Folhas de empatia. É isso que se esconde nas algibeiras dos
fatos. Empurrando suavemente a emoção para o recanto mais encardido, onde
talvez se macule e esconda dos olhares. Passos dados na realidade de uma luta
até à morte. Ganha sempre o eu. Em vez do outro. Além do outro. Apesar do
outro. Por cima do outro. Não importa. Cada ombro é degrau na escada que se
pisa na ascensão. E cada rosto é pegada atrás de nós. Importa chegar primeiro.
Seja como for. E ficam na algibeira. Folhas. De empatia. Ninguém quer ser
pôr-se no lugar do outro. Toda a gente sabe que o mundo não é de quem o faz.
Pétalas de sinceridade. É isso que se atira para o fundo das
bolsas. E lá se esquece. À medida que se avança, mentira a mentira, passo a
passo, na direção do que pode ser um amanhã melhor. O preço da realidade é a
ilusão. E é na ilusão que pende esse teor mais ou menos imoral que se estende e
parece tão certo. Dizer que não. Dizer que sim. O que convier. Porque toda a
gente sabe o que é. Não importa o que é. Importa o que se quer que seja. O
enfoque da beleza na decadência e da excelência na mediocridade. Digamos o que
se deve. São políticas de correção. Mais velhas que o próprio tempo. E no fundo
da mala. Pétalas. De sinceridade. Ninguém quer ser verdadeiro. Toda a gente
sabe que o mundo não é dos sinceros.
Vagens de emoção. Regadas a gasolina e queimadas nas
lixeiras. Com o cheiro nauseabundo do medo de que se agarrem à pele. Muros e
muralhas constroem. Antagonizando essa tal de emoção que é destrutiva. Por
vezes, fatal. E avança-se pelas ruas, escondendo qualquer nuance de sentir.
Motivados, dedicados, autómatos programados para realizar em catadupa a mesma
série mecânica de movimentos produtivos. Escaladas ascendentes e despidas de
fogo. Promoções que são contratos onde se analisam as cláusulas com desprazer.
Sem celebração. Ou com celebrações que são copos vertidos até a garganta se
anestesiar e não sentir o ardor e as papilas gustativas dizerem que o acre do
malte sabe bem. Em cinzas. Vagens. De emoção. Ninguém quer emocionar-se. Toda a
gente sabe que o mundo não é de quem sente.
E quem tira dos bolsos a bondade. Quem revela traços de
empatia, vertendo da algibeira. Quem rasga as malas para deixar fugir palavras
de sinceridade. Quem rega as emoções com água em vez de gasolina. Não é deles o
mundo. Somente a rosa. Uma rosa que é pão e que alimenta uma sociedade que
morre de fome perante a tenacidade politicamente correta dos tempos das trevas.
Perguntam a esses. Onde pensam que vão. O que pensam que
têm. E consta que nos lábios sinceros se esboça um sorriso. Que se estendem até
ao lugar do não entendimento para compreender o incompreensível. Consta que
toleram a crítica das palavras. E que estendem a mão.
São. Rosas. Senhor.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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