terça-feira, 6 de junho de 2017

Rosas



São. Rosas. Senhor.

Sementes de bondade. É isso que se esconde nos bolsos das pessoas. Que obrigam o rosto a ser sério. E os passos a ser mecânicos. E o pensamento a ser mudo. Cavam nos bolsos espaços onde atiram. Sementes. De bondade. Ninguém quer ser bom. Toda a gente sabe que o mundo não é dos bons.

Folhas de empatia. É isso que se esconde nas algibeiras dos fatos. Empurrando suavemente a emoção para o recanto mais encardido, onde talvez se macule e esconda dos olhares. Passos dados na realidade de uma luta até à morte. Ganha sempre o eu. Em vez do outro. Além do outro. Apesar do outro. Por cima do outro. Não importa. Cada ombro é degrau na escada que se pisa na ascensão. E cada rosto é pegada atrás de nós. Importa chegar primeiro. Seja como for. E ficam na algibeira. Folhas. De empatia. Ninguém quer ser pôr-se no lugar do outro. Toda a gente sabe que o mundo não é de quem o faz.

Pétalas de sinceridade. É isso que se atira para o fundo das bolsas. E lá se esquece. À medida que se avança, mentira a mentira, passo a passo, na direção do que pode ser um amanhã melhor. O preço da realidade é a ilusão. E é na ilusão que pende esse teor mais ou menos imoral que se estende e parece tão certo. Dizer que não. Dizer que sim. O que convier. Porque toda a gente sabe o que é. Não importa o que é. Importa o que se quer que seja. O enfoque da beleza na decadência e da excelência na mediocridade. Digamos o que se deve. São políticas de correção. Mais velhas que o próprio tempo. E no fundo da mala. Pétalas. De sinceridade. Ninguém quer ser verdadeiro. Toda a gente sabe que o mundo não é dos sinceros.

Vagens de emoção. Regadas a gasolina e queimadas nas lixeiras. Com o cheiro nauseabundo do medo de que se agarrem à pele. Muros e muralhas constroem. Antagonizando essa tal de emoção que é destrutiva. Por vezes, fatal. E avança-se pelas ruas, escondendo qualquer nuance de sentir. Motivados, dedicados, autómatos programados para realizar em catadupa a mesma série mecânica de movimentos produtivos. Escaladas ascendentes e despidas de fogo. Promoções que são contratos onde se analisam as cláusulas com desprazer. Sem celebração. Ou com celebrações que são copos vertidos até a garganta se anestesiar e não sentir o ardor e as papilas gustativas dizerem que o acre do malte sabe bem. Em cinzas. Vagens. De emoção. Ninguém quer emocionar-se. Toda a gente sabe que o mundo não é de quem sente.

E quem tira dos bolsos a bondade. Quem revela traços de empatia, vertendo da algibeira. Quem rasga as malas para deixar fugir palavras de sinceridade. Quem rega as emoções com água em vez de gasolina. Não é deles o mundo. Somente a rosa. Uma rosa que é pão e que alimenta uma sociedade que morre de fome perante a tenacidade politicamente correta dos tempos das trevas.

Perguntam a esses. Onde pensam que vão. O que pensam que têm. E consta que nos lábios sinceros se esboça um sorriso. Que se estendem até ao lugar do não entendimento para compreender o incompreensível. Consta que toleram a crítica das palavras. E que estendem a mão.
São. Rosas. Senhor.

Marina Ferraz


*Imagem retirada da Internet




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