Fica – a incerteza. Prende-me ao chão. Sela-me os passos com
ambiguidades. E elas parecem gelo. Ferro. Pregam-me à pedra. E dizem – fica –
não querem que vá?
Fundo-me com o gesso. Das paredes. E com a cera. Das velas.
E com o aroma florido. Do ar. Não sou primavera. E é aterrador. O som do vento.
O cheiro das rosas. Peço, imploro. Em silêncio. Com medo que ouçam. Não! Não
quero ir. Há um Universo pardacento de ses no caminho. Como espinhos. Como
maldições. Estou descalça e tenho os pés presos ao chão. Não quero ir.
Vêm as vozes. Sempre cantadas. Num eco. E se. E se. E se.
Abano a cabeça. Agarro-me a mim própria. Um abraço de dedos inusitados, cujas
unhas furam as carnes meio flácidas dos braços, à procura do conforto. É um
terror que não se explica. Que alastra. Perdura. Lamenta o invisível que vem
depois.
E as vozes – Tenta. Podes falhar. Podes cair. Mas tenta. –
Vou cair. Sei-o. Mas elas não. – As quedas não te põem só mais perto do chão.
Também te põe mais perto do objetivo. – Talvez. Mas custa ir. Não sei o que
vem. Não sei o que está. E se não chega? E se. E se E se.
Um mundo feito de dúvidas, lá à frente. E uma morte tão
certa aqui. As questões que se levantam. E que não se respondem sozinhas. Nem
acompanhadas. Nem de outra forma qualquer. Lançam-se cartas de vento sobre a
minha mesa de terra. E fluo na sua direção. Tento encontrar calor nas suas
revelações. Etéreas. Incertas. Ninguém sabe o amanhã. Ninguém sabe se amanhã o
eco não se repete. E se. E se. E se.
Sinto o flagelo da dúvida a aguçar-me as feridas. E há
demasiado passado no meu presente. Demasiado pouco presente na construção do
futuro. E as vozes. – Tenta! – Talvez. Mas e se?
Mostram-me os pés. Pregados ao chão. E eles sangram. Tanto
ou mais do que sangrariam num caminho de espinhos. Mostram-me as marcas das
unhas na pele. – Não são abraços. – São ambiguidades. E mostram-me a dúvida.
Que me prende a ferro e me confina ao espaço onde a morte é destino certo.
Rebento com o chão e com a parede. Num grito. E embate
contra mim a pedra. Embate contra mim o fogo. Embate contra mim a vontade de
ir. À procura do futuro. E do destino dos “e se”, seja ele qual for.
Vou. E se? Bem. Se eu tentar – é assustador – poderei
encontrar a falha que me fará cair no mais fundo dos abismos. Mas se não tentar
– esse é o pior destino – serei eternamente escrava da dúvida.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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