Troca por troca. A minha opinião pela tua. A tua pela de
alguém. Vice-versa. Troca o passo. Roda e bate palminhas. Opinião. A minha. A
tua. A dele. A nossa. Façamos silêncio. Concordamos. Tu e eu. Tu e ele. Ele e
alguém de quem eu discordo. Mas é só a minha opinião. E a tua. E a dele. Temos
algo em comum.
A vulgarização do amor e do sexo não é nada demais quando
comparada à vulgarização da opinião. Diria mesmo que o negócio mais falho do
mundo é o do mercado de opiniões. Há quem pague o amor. Há quem pague o sexo.
São mercados que vendem, nas ruas e no cinema, muito mais do que alimento. Mas
ninguém compra opiniões. Porque toda a gente as dá. São mais vulgares do que o
ar. E mais comuns do que a água potável ou não. São tão drasticamente cedidas que
existe quem opine sobre a opinião feita sobre outra opinião qualquer. Toda a
gente a dá e toda a gente a tem. Convenientemente há quem tenha mais do que
uma. Sobre a mesma temática. Depende da opinião alheia.
Dá-se. Por aí. Gratuitamente e sem ninguém pedir. É muito
mais do que uma prostituição mental. Porque se fosse prostituição valia alguma
coisa. E não vale. Porque não é mais do que uma oferta cedida sem razão
aparente. Uma espécie de conhecimento mas sem conteúdo. Uma espécie de malícia
mas sem efeito. Uma espécie de espaço vazio mas onde não cabe nada.
Opinião. Construída sem peças. Ou com meias peças. Mas quase
sempre sem que a peças. Porque quando se pede. Ai, quando se pede ninguém sabe.
Ninguém viu. Ninguém tem. E faz o que quiseres, por favor, que não quero ser
culpado dos teus infortúnios. Mas se não pedes. Deuses. Opiniões. Como gotas de
chuva. Na maior das tempestades. Dilúvios de cloaca. Caídos dos céus da boca de
alguém que sabe globalmente sobre todas as temáticas. Divinamente.
Mesmo quem nunca viu e não sabe. Ouviu dizer. Acha que.
Qualquer terminação. Não importa. Porque é mais vergonhoso não ter opinião do
que não ter razão. Porque é mais vergonhoso não ter opinião do que não ter
vergonha. Pior mesmo é ter opinião e não querer dá-la. Porque a palavra é
precisa e o mundo pode desalinhar no silêncio.
Troca por troca. A minha opinião pela tua. A tua pela de
alguém. Vice-versa. Troca o passo. Roda e bate palminhas. Temos opinião.
Devemos ser gente. Mas há quem seja da opinião que não somos. E quem tenha a
opinião que essa opinião é parva. E quem tenha a opinião de que opinião não
deve existir.
Existe. É o mercado mais falho de todos os tempos. Excepto
para quem integra os mercados onde a opinião se difunde para criar opiniões. Aí
chega-se a uma qualquer presidência opinativa e pode-se avançar para a apanha
da roupa alheia nos quintais que são ruas onde as pessoas caminham cheias de
opiniões. Mas fora isso. Não. A opinião não é mercado que funcione. Ninguém
compra opiniões. Toda a gente as dá. Quem não a tem rouba aos outros. Repete.
Tem por opinião que a opinião alheia serve o propósito da vida.
E quem pede silêncio? Opinativamente, por favor calem-se.
Ouve logo. A opinião. E os direitos, senhor? E o direito de ter, de dizer, de
mostrar que há opinião? Não! Não há espaço para silêncios no mundo da
concretização opinativa.
Tenho para mim que a opinião é a matéria que conduz o espaço
e que é por isso que andamos sempre à roda do sol. Não aprendemos outro
movimento que não o circular. Opinativamente circular. Sempre à roda do mesmo.
Vez após vez, após vez.
Talvez seja certo. Talvez faça sentido. Parece-me bastante
rudimentar. Parece-me estúpido.
Mas, bem… é só a minha opinião!
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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