É uma espécie de plataforma legal. Que nos leva. Lentamente.
Na fluidez de um tempo próprio. Que se estende e expande, até que cada segundo
seja uma hora e nela saibamos puxar fios soltos de uma tapeçaria que nunca
acaba.
Algures, para não ficarmos enrolados nesse tear constante de
possibilidades que nunca se concretizam, vamos enredando diminutos nós de forca
e usando as linhas como gargantilhas. E vão puxando, todos os dias um
bocadinho, o chão debaixo dos nossos pés. Com as mãos do silêncio e da improficiência
grosseira, resultado de muitas inépcias e muito ócio fora de tempo.
Obrigando-nos a ficar num posicionamento débil de equilíbrio, nas pontas dos
dedos, fazendo um bailado sobre o ar. Se nos chega a dor sistémica, falta-nos a
leveza dizível. E tombamos.
Um aplauso. Um riso. Uma frase feita de clichés. Tudo melhor
do que nada. Mas vem isso. O nada. Sem aplauso ou riso ou cliché. Sonhamos.
Queremos. Outra coisa. Qualquer coisa. É um desejo onírico, onde se trazem
vulgaridades dependuradas nas mesmas cordas que se enlaçam e nos libertam da
necessidade inusitada da respiração.
É uma espécie de plataforma funcional. Diz que é. Diz. Funcional.
E permanece na disfunção de o ser porque quem tem a competência de fazer andar
os relógios não são as mãos que laboram nos ponteiros. E, se o fossem, seriam
máquinas. De pouco valeria falar de sensatez ou de indigência. De pouco
valeria… e de pouco vale. Que os queixumes nunca ultrapassam as portas da
hierarquia e, quem tem o poder, quer desfruir dele antes que se evada.
E fica no ar esse toque aromático, um tanto pútrido, de uma
espera que se faz às portas da mesma casa que nos devia levar, em braços, até
ao patamar onde converge excelência, sonho e sensatez. Porque, para que se
passem as portas, é preciso que alguém decida. E tome o bravo e ousado ato de
mover a mão para assinar e carimbar um papel.
É só silêncio. Uma espécie de plataforma legal. De
legalidade questionável. E com o bom senso enterrado, sob fios de uma eterna
tapeçaria e mil requerimentos e dez mil lamúrias. Leva-nos. Levemente. Na
fluidez de um tempo próprio. De um tempo estático. Onde nada acontece. Mas tudo
envelhece. Até a história. E, nessa história que se faz velha, há sempre uma
razão. Tudo se justifica. Como é fácil justificar o tanto que não se diz.
É uma espécie de plataforma legal. Que se diz funcional.
Disfuncional. E só.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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