O meu pai disse-me, uma vez: é possível ser feliz... até num Palácio. Menina.
Dona de todas as vontades dos contos de fadas. Senhora de todos os mistérios e
encantos das histórias. Olhei para ele. E não entendi.
Ouvi dizer. O mundo vai acabar. Que acabe! Mas que acabe como deve ser. Quero que a última partícula humana do meu corpo se desintegre de forma natural. Elementar. E, por isso, quero que optemos pela vida mais simples...
Agarras-me e eu agarro-te. Procuramos um abrigo qualquer. Sim, meu amor, pode ser uma casa grande, com piscina interior aquecida e campo de ténis. Mas não te preocupes com isso... Ficarei igualmente feliz com um T0 no interior ou uma barraca num bairro da lata. Com uma tenda. Com uma cabana com atilhos mal feitos de fiteira a segurar as canas ocas. E se voar não te importes. - Aposto que, atrás da porta, o vento larga a rudeza. Cansado. Tão cansado de ser vento... Atrás da porta, o vento irá sentar-se na poltrona, descansar olhando a janela e desejar ser sol ou chuva. Qualquer destino lhe parece melhor do que este, de ser vento... – Então, se voar, construímos outra. Ou não construímos nada e deitamo-nos na areia da praia, a olhar as estrelas, questionando, ainda que sem dizer: mas o que é isto?
Isto são as estradas para a Morte, irei constatar. E notarei em ti o desconforto dessa ideia. E aceitarei que a minha filosofia é minha. E amarei que tenhas a tua. Não acrescentarei o resto, para não te incomodar... Talvez pouse a mão na tua, por saber que esse ponto de calor me apaga o arrepio da Nortada. E talvez sinta um arrepio lento, de outro tipo, nascer mais a Sul.
A pouco e pouco, palavras desnecessárias serão um silêncio cómodo. E aprenderei que silêncio não é vácuo e que estar calada não é admitir tudo, do mesmo modo que querer-te não é negar-me.
Ouvi dizer que o mundo vai acabar. Encosto a cabeça no teu peito. E digo-lhe que acabe. Ali. Como deve ser. Com cada partícula do meu corpo a aprender a ser humana além da guerra. Estou cansada de lutar!
A lua está crescente. Em todas as suas fases, a lua está crescente. E o meu coração bate de um modo frenético. Não quero apostar, mas acho que o sol se apaga no mar e que és tu que iluminas a lua, quando sorris.
Por momentos, quero dizer-te que sou vento. Que atrás da porta largo a rudeza. Cansada, tão cansada, de lutar contra tudo. Qualquer destino me parece melhor. E, aos poucos, quero só estar. Nos teus braços. Sem preferência de onde, de como, de a fazer o quê. Sem querer saber o que almoçar ou jantar, que filme ver ou qual o destino da viagem que os pés fazem. Quero só estar.
Arrefece e não sinto frio. Deve
ser isto o fim do mundo! Sorris e iluminas a lua. E eu quero não ser vento.
Então, pergunto-te se queres apanhar canas e fazer uma cabana. Menina. Dona de
todas as vontades dos contos de fadas. Senhora de todos os mistérios e encantos
das histórias. Olho para ti. E entendo, finalmente.
Salto do amor e uma cabana para a frase do meu pai: é possível ser feliz... até num Palácio.
E, hoje, parece-me, de facto, difícil ser feliz num Palácio.
Palácios têm muralhas. E muros. E regras terminantes. E eu não soube o que era isso de ser feliz, até tudo isso me tombar... Penso que descobri que o segredo que está por detrás de todos os mistérios e encantos...
Então vem... Esquece o palácio!
Deixa a cabana, também!
Vamos só ficar aqui. Debaixo das estrelas. Em segredo. Só um bocadinho. Está bem? Só até o mundo acabar...
Sem comentários:
Enviar um comentário