Não sei quanto a ti. Mas eu? Eu vou rodar os ponteiros no sentido errado e inverter o tempo. Vou deixar que a manhã desapareça e dê lugar à aurora e depois à noite. A noite. Essa noite.
Quero ser a pessoa que voltou atrás no tempo. Porque, apesar de se dizer que o futuro tem as maiores maravilhas do mundo, eu sei que, às vezes, deixamos cair pelo caminho partes imprescindíveis de nós. E eu vou rodar os ponteiros no sentido errado para ir buscar o que perdi.
Não sei quanto a ti. Mas eu? Eu vou voltar atrás para ir buscar a menina. Sim, a menina. A menina de cabelo aos caracóis e de laçarotes ao xadrez, que andava sempre com vestidinhos de fazenda perfeitamente engomados. A menina que decidiu o seu futuro aos seis anos e que não desistiu dos sonhos nem por um segundo. É isso que eu a vou buscar às noites desse tempo que passou.
Não me entendas mal! Vivi tanto do melhor do mundo. Tantas coisas de provocar sorrisos de orelha a orelha. Mas essa menina, essa menina não odiava ninguém. Essa menina não amava ninguém. Essa menina nunca tinha visto ninguém morrer. E eu tenho saudades dela porque, apesar de não ter vivido as maiores coisas, já era capaz de as sonhar.
A memória mais sagrada que guardo dessa menina é a olhar para as estrelas. "Estrelinha brilhante, primeira estrela que vejo, realiza hoje o meu maior desejo!" A mesma frase insensata, dita mudamente por lábios cénicos e crentes. À espera que as estrelas lhe dessem o caminho dos sonhos e a encaminhassem por trilhos de amor. Totalmente inocente, à espera que o mundo olhasse para ela e entendesse que nada de mal ia acontecer.
Não sei quanto a ti. Mas eu? Eu adoro essa menina que ficou para trás, com os seus quase ridículos sapatos de tira e a sua crença cega na magia do mundo. Porque essa menina, essa menina que largou cedo as bonecas para se agarrar aos livros e que perdeu aulas inteiras a divagar em histórias encantadas, essa menina sabia exactamente o que esperar do futuro. A única coisa que ela não sabia era que, nesse futuro, ia querer voltar atrás para voltar a ser criança.
Vou rodar os ponteiros no sentido errado, sim! Vou! Tenho a mão estendida. Podes vir comigo buscá-la. Mas vou, mesmo que não venhas. E, quando a encontrar na noite dos infernos em que a perdi, vou pedir-lhe desculpa. Vou pedir-lhe desculpa por ter deixado cair a bondade extrema de acreditar que o mundo podia ser um lugar perfeito.
Mas eu conheço essa menina melhor do que ninguém. Sei o que ela me vai dizer. E sei que ela vai resumir tudo a duas perguntas.
- Realizaste o meu sonho? - perguntará, enrolando um caracol, com um ar envergonhado. E eu vou sorrir, olhar para ela e dizer que sim. - E amaste?
É por esta pergunta que gostava que rodasses os ponteiros do tempo comigo. Aquela menina, tão inocente, que não amava nem odiava ninguém, era justamente a menina que podia olhar nos meus olhos e saber as respostas. Olhar nos teus e entender o motivo pelo qual tinha voltado atrás.
Não sei quanto a ti. Mas eu vou lá, onde ela está. E vou guardá-la no peito, mesmo com os quilinhos a mais e o cabelo revolto. Devo a essa menina tudo quanto sou hoje. Os sonhos dela, os meus sonhos. O amor dela, o meu amor. Ela já sabia tanto com os olhos cheios de ternura...
Preciso que ela me ensine a esperar e a sorrir. Preciso que ela me ensine a pedir às estrelas para ser feliz.
Eu vou rodar os ponteiros. Vez após vez, até chegar à hora certa do dia certo. Até chegar à noite em que ela pediu um desejo às estrelas e esse desejo foi simplesmente amar. E, quando a encontrar, vou abraçá-la e trazê-la comigo. Quem sabe se não viveremos juntas o melhor dos contos de fadas.
Quero ser a pessoa que voltou atrás no tempo. Porque, apesar de se dizer que o futuro tem as maiores maravilhas do mundo, eu sei que, às vezes, deixamos cair pelo caminho partes imprescindíveis de nós. E eu vou rodar os ponteiros no sentido errado para ir buscar o que perdi.
Não sei quanto a ti. Mas eu? Eu vou voltar atrás para ir buscar a menina. Sim, a menina. A menina de cabelo aos caracóis e de laçarotes ao xadrez, que andava sempre com vestidinhos de fazenda perfeitamente engomados. A menina que decidiu o seu futuro aos seis anos e que não desistiu dos sonhos nem por um segundo. É isso que eu a vou buscar às noites desse tempo que passou.
Não me entendas mal! Vivi tanto do melhor do mundo. Tantas coisas de provocar sorrisos de orelha a orelha. Mas essa menina, essa menina não odiava ninguém. Essa menina não amava ninguém. Essa menina nunca tinha visto ninguém morrer. E eu tenho saudades dela porque, apesar de não ter vivido as maiores coisas, já era capaz de as sonhar.
A memória mais sagrada que guardo dessa menina é a olhar para as estrelas. "Estrelinha brilhante, primeira estrela que vejo, realiza hoje o meu maior desejo!" A mesma frase insensata, dita mudamente por lábios cénicos e crentes. À espera que as estrelas lhe dessem o caminho dos sonhos e a encaminhassem por trilhos de amor. Totalmente inocente, à espera que o mundo olhasse para ela e entendesse que nada de mal ia acontecer.
Não sei quanto a ti. Mas eu? Eu adoro essa menina que ficou para trás, com os seus quase ridículos sapatos de tira e a sua crença cega na magia do mundo. Porque essa menina, essa menina que largou cedo as bonecas para se agarrar aos livros e que perdeu aulas inteiras a divagar em histórias encantadas, essa menina sabia exactamente o que esperar do futuro. A única coisa que ela não sabia era que, nesse futuro, ia querer voltar atrás para voltar a ser criança.
Vou rodar os ponteiros no sentido errado, sim! Vou! Tenho a mão estendida. Podes vir comigo buscá-la. Mas vou, mesmo que não venhas. E, quando a encontrar na noite dos infernos em que a perdi, vou pedir-lhe desculpa. Vou pedir-lhe desculpa por ter deixado cair a bondade extrema de acreditar que o mundo podia ser um lugar perfeito.
Mas eu conheço essa menina melhor do que ninguém. Sei o que ela me vai dizer. E sei que ela vai resumir tudo a duas perguntas.
- Realizaste o meu sonho? - perguntará, enrolando um caracol, com um ar envergonhado. E eu vou sorrir, olhar para ela e dizer que sim. - E amaste?
É por esta pergunta que gostava que rodasses os ponteiros do tempo comigo. Aquela menina, tão inocente, que não amava nem odiava ninguém, era justamente a menina que podia olhar nos meus olhos e saber as respostas. Olhar nos teus e entender o motivo pelo qual tinha voltado atrás.
Não sei quanto a ti. Mas eu vou lá, onde ela está. E vou guardá-la no peito, mesmo com os quilinhos a mais e o cabelo revolto. Devo a essa menina tudo quanto sou hoje. Os sonhos dela, os meus sonhos. O amor dela, o meu amor. Ela já sabia tanto com os olhos cheios de ternura...
Preciso que ela me ensine a esperar e a sorrir. Preciso que ela me ensine a pedir às estrelas para ser feliz.
Eu vou rodar os ponteiros. Vez após vez, até chegar à hora certa do dia certo. Até chegar à noite em que ela pediu um desejo às estrelas e esse desejo foi simplesmente amar. E, quando a encontrar, vou abraçá-la e trazê-la comigo. Quem sabe se não viveremos juntas o melhor dos contos de fadas.
Marina Ferraz
*imagem retirada da Internet
Um dos meus preferidos... muitíssimo comovente, terno e nostálgico. Dá vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo... Simplesmente lindo.
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