Tenho as minhas raízes nas pontas dos dedos. Profundamente
cravadas na terra dos meus pensamentos. Oportunamente desgastadas pelo passar
do tempo. Bebo da água da chuva que me verte do olhar, qual cascata doce de uma
tristeza infinita. Mas como a tristeza não basta, alimento-me do amor que ficou
por entre as rochas do subsolo do meu passado e ergo-me aos céus, de braços
estendidos. Sou mais alta do que os prédios mais altos da avenida. Mais forte
do que os homens que palmilham as ruas. Sou maior e mais forte porque tenho as
minhas raízes nas pontas dos dedos.
Ouvi dizer que choveu. Torrencialmente. Ouvi dizer que o
vento fez estragos em mim e me derrubou com a dureza das mentiras, da distância
e do adeus. E a tempestade que se fez em mim, dizem que me quebrou. Que caí por
entre o bosque encantado dos meus sonhos e que ninguém notou. Sou apenas uma
árvore caída, não é? Uma árvore caída na floresta das ilusões, na profundeza da
mata das histórias de encantar. Quebrada, pela vontade intempestiva do mundo.
Ouvi dizer que me derrubaram. Que me destruíram com relâmpagos de maldade e com
a acidez das chuvas de cobiça. Foram as andorinhas de verdade que me contaram,
enquanto corriam para Sul, tentando fugir da maldade humana.
Tenho as minhas raízes nas pontas dos dedos. Profundamente
alinhadas com a vontade dos Deuses. Oportunamente delineadas para cumprir os desígnios
do Mundo. E, embora tudo o resto esteja caído, a apodrecer nos caminhos vãos da
Terra, as raízes estão intactas, sem saber se a tempestade levou tudo ou trouxe
mais do que levou.
E, quem passa, vê uma árvore caída. Que diferença faz? Dos
meus desgostos, caídos pelo chão; dos meus desejos, mortos pelo tempo já toda a
gente fez fogueiras para aquecer um sorriso podre de vingança. Mas as minhas
raízes não, porque estão cravadas nos sonhos, conscientes e acordadas. Estão
fixas na certeza do que foi e encontram aí, não apenas mágoa, mas também amor e
arte, palavras e conforto.
Enquanto acendem lareiras de maldade com as minhas quedas,
as minhas raízes constroem vida com a maldade dos outros. E eu não sou uma
árvore caída nos confins da floresta. Sou as raízes sólidas que permanecem
ligadas à terra. Sou as palavras que fluem. Sou o que a tempestade não consegue
levar e o que as pessoas não conseguem destruir. Tenho as raízes nas pontas dos
dedos e o coração nas minhas raízes. O resto de mim que quebre. A minha força é
inquebrável e mora onde ninguém a vê.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
em tao profundidade de texto vem explanar o quanto e abrangedor este desbravar de desabafo desta alma poetica. que tranpoe o delinear de um passado
ResponderEliminarLindo e tocante texto , conseguiu me emocionar ! Que minhas raízes sejam assim profundas e que o vento e as tempestades de minha vida não consigam me derrubar e que depois fique somente o que é bom , o que é puro e o que realmente vale a pena ! Beijo no coração!
ResponderEliminarCaso queira conhecer também tenho um blog http://raquelmell.blogspot.com.br/
É lindo,o que já nem se torna mais novidade,afinal todos os vossos textos são incríveis.
ResponderEliminarTão profundo e tão perfeito.
Parabéns querida,beijinhos
Jenny ♥
Lindíssimo texto, Marina. Fez-me lembrar o estilo de alguns dos meus preferidos que já escreveste. Continua assim!!
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