A alegria é azul. Azul como o céu e o mar, que são os mesmos
há milhares de anos, sem que ninguém lhes diga que a forma como são está
errada.
O mar vem em ondas, embater nas mesmas rochas, fazendo o
mesmo som. O som do mar é triste e faz chorar as gaivotas. Mas as pessoas
sorriem a olhar o mar. Não dizem que ele devia ter encontrado outra canção nem
que se devia libertar de sereias, secar o choro. E, por isso, o mar, esse mar
que é o mesmo há milhares de anos, é alegria.
O céu bebeu das lágrimas do mar e chora-as. Inverno após
inverno, deixa cair as lágrimas sobre o mundo. E é soturno, às vezes, com as
suas nuvens pesadas e cinzentas. Anoitece, faz-se em trevas e deixa cair
estrelas, qual diamantes de desejo, as mesmas estrelas há milhares de anos...
Mas as pessoas sorriem a olhar o céu. Não dizem que ele devia encontrar
estrelas que não caíssem ou estar sempre limpo da angústia escura das nuvens. E por isso, o céu, esse céu que é o mesmo há
milhares de anos, é alegria.
O mar e o céu não são crianças por terem sereias imaginárias
e Deuses. Têm seres fantásticos e divindades porque têm a idade do tempo e são
respeitados na sua condição anciã. Ninguém chama o mar de criança por ele estar
calmo, por ele estar bravo, por ele resmungar no rebentar violento de uma onda.
Ninguém olha para a jovialidade do céu porque ele resolve provocar dilúvios ou
secas. Não há, na idade infinita do céu e do mar uma juventude de acusações.
Ninguém lê a tristeza do mar como extenuante. Ninguém lê as lágrimas do céu
como excessivas. Olhando para eles, lê-se alegria. A alegria de uma constância
que permanece, década após década, século após século.
Então o mar e o céu são alegria azul e o azul é a alegria do
mundo. Sem mudanças, sem o silêncio das tempestades, sem o desanuvio dos
tormentos. O mar e o céu são alegria, apesar de continuarem aí, a chorar, a
gritar, a embater violentamente contra praias e prados.
São Natureza, diriam, na justificação fugaz dos sorrisos com
os quais brindam as atitudes ferozes desse céu e desse oceano. E são. São
Natureza. Mas eu também sou. Também sou Natureza. Também sou alegria. E também
continuarei por aí a chorar, a gritar, a embater violentamente contra o mundo,
não em água, não em ar, mas em palavras. Há uma serenidade azul na minha alma.
E sou feliz. Feliz como o mar, feliz como o céu. Feliz como esses que vivem
intempestivamente há milhares de anos, sem abandonarem o que os torna imortais.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Que perfeito Ma,eu adoro os seus textos por todo o sentimento que tenho quando leio o que tu escreves,cada palavra é um pedacinho da minha alma,e " Há uma serenidade azul na minha alma. E sou feliz. Feliz como o mar, feliz como o céu. Feliz como esses que vivem intempestivamente há milhares de anos, sem abandonarem o que os torna imortais." Minha parte preferida :)
ResponderEliminarParabéns querida :D
Beijinhos Jenny ^.^