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Seja condescendência. Paciência extra. Palavras falsas. Amores menores. Jeitinhos sentimentais. Deferência. Mentiras. Desapego. Obediência. Vassalagem. Submissão.
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Peço desculpa. Estou cansada das dinâmicas do mundo atual. E das pessoas que anuem. E das pessoas que concordam. E das pessoas que aceitam. E das pessoas que puxam a corda até partir, sem pensar em mais do que o próprio umbigo. Estou cansada de quem marca e não aparece. De quem convida com pretextos e segundas intenções. De quem bate na mesma tecla sucessivamente, debitando as frases da TV como se fossem verdades universalmente grandes.
Ruas oleadas e nauseabundas, cheirando a motor e subordinação, com dejetos de animais e cartazes políticos servindo o mesmo propósito. Animais e pessoas levados pela trela, com ração doseada, não vá a fome passar e acabar com o desespero.
Prefiro sentar-me no chão, ao lado de quem pede esmola, olhando para a lata velha e vazia como o estômago. Não me peçam para descer ao nível de quem comanda a trupe. Lá em cima, nesse buraco de excrementos, quem olha tem também a lata mas com contas offshore.
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Já não tenho comigo a força de cozinhar banquetes para quem quer fast food. Perdi a paciência de levar o pequeno-almoço à cama de quem quer uma cama diferente todas as noites. E ainda mais de tratar o Amor pelo nome, quando o apelido é Próprio... e não se dá senão ao eu.
Cansei-me de me sentar na margem do rio ou à frente do pôr-do-sol com quem se prende apenas no ecrã, insistido em gravar na memória do telemóvel o que jamais ficará na sua. Ou de fazer poemas para quem quer esperar que a história vire filme, para não ter o trabalho da interpretação.
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Essa pessoa moderadinha e pacata, disposta a ceder e abdicar de pedaços de alma e coração a troco de nada está esgotada na minha loja. Tenho o excesso que sou, com vários condimentos. Sarcasmo, ironia, combatividade. Presença de espírito, análise crítica, discursos politizados e apartidários. Sonhos para ontem, hoje e amanhã. Sexualidade louca sem medos, sem grilhetas sociais ou de género. Disposição para a luta. Anseio pela vida e pela morte, em dose igual.
Há muita coisa disponível. Mas, desculpe. A passividade que procura esgotou.
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Emoldura essa dos dejectos animais e cartazes políticos a servirem o mesmo propósito!
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