Trabalho. Saúde. Sorte. Amor. Felicidade.
Se perguntarem à maioria das pessoas, estes são os pontos fortes sobre os quais gostariam de se debruçar. Uma cartomante iria dizer-vos que as perguntas mais comuns se relacionam com uma destas cinco temáticas. A leitura intrusiva dos diários pessoais diria o mesmo. As orações ditas para dentro também. As pessoas não pedem muito. Mas pedem tudo. Porque pedir trabalho, saúde, sorte, amor e felicidade é pedir plenitude.
Brevemente farei 35 anos. Soprarei velas. Irei mordê-las. E alguém dirá: pede um desejo. Direi que sim. Sorrirei. Mas não sei o que pedir.
Trabalho
Acontece que eu tinha 6 anos quando decidi que queria ser escritora. Fui uma criança muito estranha. Tão estranha que disse que queria ser escritora sem saber escrever. Escrevia poemas durante as aulas. Lia a gramática nos intervalos. Inventava histórias que seriam grandes romances. Passo a passo, dei a segunda vida às folhas que fizeram com as árvores mortas. Passo a passo. Uma parceria com um jornal. O lançamento de um livro. A ida ao Festival da Canção. As canções sem festival. A palavra dita atrás do micro. O segundo livro. O palco. As empresas que me encontraram e quiseram os meus textos. As dificuldades. A luta. O dinheiro no fim do mês. Eu tenho trabalho. O meu trabalho nem sempre me permite uma vida fácil. É mais bruto do que líquido. Mas, do que líquido fica, mata-me a sede ao desejo de cumprir, todos os dias, a promessa que fiz àquela menina de 6 anos.
Saúde
Não sou uma pessoa de escolhas saudáveis. Uso a dieta-da-vida do meu avô. Homem que sempre comeu, bebeu e fez o que lhe dava na telha. Mas, por entre os hábitos pouco sadios, o facto é que, em 15 anos, só fiquei doente 2 vezes. Ambas psicossomáticas e depressa resolvidas com cortes estratégicos diretamente na fonte do problema. Nem a Covid me quis...
Sorte
Todos os dias há crianças a morrer de fome. Meninas a quem é feita a excisão. Meninas casadas precocemente. Meninas e mulheres traficadas e tratadas como gado. Meninas e mulheres forçadas a prostituírem-se, a taparem-se, a escravizarem-se. Meninas e mulheres apedrejadas. Meninas e mulheres a fugir de guerras e violência. Mulheres a terem os filhos arrancados dos braços. Mulheres que passam por atrocidades tão diversas que, aqui e agora, eu não me lembro de todas.
Tive sorte. Sorte de nascer a norte de uma linha. Branca, europeia, de classe média, no abraço de todas as vantagens e abébias. Sorte de poder queixar-me, ainda assim, das coisas que acho erradas. Sorte de receber olhos que veem e alma que não ignora o mundo. Olhos e alma que me fazem saber que já tenho toda a sorte de que preciso.
Amor
Não bastou a sorte de nascer aqui. Nasci aqui-aqui. No seio de uma família onde nunca faltou amor. Amor foi a minha primeira refeição e todas as que se seguiram. A minha mãe ensinando-me a ser gente. O meu pai trazendo para a mesa alimento e oportunidade. Os meus irmãos dando-me a honra de ter amigos e companheiros de brincadeiras e confidentes. Os meus avós ensinando-me a bondade. Conheço o amor pelo primeiro nome. Trato-o por tu. E ele continua a bater-me à porta. E ele continua presente em cada respiração. Então, para quê, pergunto, pedir o que se tem de sobra?
Felicidade
Sou tão feliz que tenho a felicidade de saber que ser feliz é uma escolha. E faço essa escolha todos os dias. Mesmo naqueles em que estou triste. Talvez as gramáticas que li na primária me tenham feito bem. Talvez perceber a diferença fundamental entre estar e ser seja exatamente o que falta a quem se diz infeliz. Tenho trabalho, saúde, sorte e amor. Tenho tudo para ser feliz. Então sou.
É uma equação simples. Eu tenho tudo o que as pessoas pedem. E um problema. Vou soprar as velas. Morder as velas. E alguém dirá: pede um desejo.
Gente, eu acho que esta vida foi o cumprir de um desejo que eu fiz na vida passada. Só eu sei como queria que toda a gente pudesse dizer o mesmo.
Ah... esqueçam... afinal acho que sei o que pedir...
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Sim, Marina querida, tens a felicidade de possuir todas e cada uma daquelas coisas e algumas em quantidade. Mas dos teus escritos parece evolver-se algo mais. E a isso tenho dificuldade em chamar felicidade. Como dizia o poeta, isso "desperta-me o desejo absurdo de sofrer". Há também um tom de tristeza e de solidão acompanhada que perpassa pela tua personalidade, um pouco como a nossa Florbela. Mas talvez que seja mesmo assim, talvez que a felicidade completa nunca seja possível, talvez que estejamos condenados a desejar o impossível, uma plenitude ansiada e nunca alcançada. Talvez que a eterna procura seja parte integrante do nosso caminho de seres limitados querendo romper os limites. Desejo sinceramente tudo de bom para ti e que os teus desejos possam sempre realizar-se. Fica bem. Fica com o meu beijo do tamanho da distância. ZM
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