terça-feira, 11 de junho de 2024

Teoria da Regressão da Espécie

 

Imagem retirada da web | iStock

Na escada da evolução, creio que o pé da sociedade algures resvalou. Falhou o degrau seguinte, deu com os dentes na trave. Magoou-se.

 

Os primatas apontaram dedos e riram, com guinchos, como qualquer humano também teria feito, se não doesse. Mas doeu. Doeu muito. Apetece chorar. Talvez Freud explique. Darwin, certamente, não conseguiu.

 

Quer dizer, Darwin poderia explicar. Quando nos fala da Teoria da Evolução, ele aponta o ambiente como gerador de processos de uma seleção natural, capaz de dar primazia a quem melhor se adapta. Para alguns, estou certa, isto poderia fazer sentido com o que se está a passar, já que parece que a nova moda é achar que os “escolhidos de Deus” e os “defensores da raça” são os mais adaptados e os únicos que têm razão neste globo (que muitos dos referidos escolhidos e raça-pura dizem que é plano). Também poderia fazer sentido se considerarmos que, feito primatas, muitos apontam esta gente a guinchar e a rir. Pior. A votar.

 

Em todo o caso, eu não encontro sentido nisto. Sinto que a “Teoria da Regressão da Espécie” seria mais precisa, num momento em que se assiste à aniquilação dos processos evolutivos que visavam – sei lá! – construir um mundo mais equitativo e justo.

 

Monta-se mais uma tenda na rua, em Lisboa. Coloca-se mais uma caixa de cartão a servir de colchão. Veda-se a fronteira, como se ela não fosse feita de ar. Envia-se apoio para a guerra, mas não alimento ou medicação: arma! Pobres de espírito falam dos pobres com asco. Herdeiros do colonialismo mandam pessoas “para a sua terra”. Senhores que se acham donos do mundo destroem o mundo, a míssil ou com políticas de desmatamento. O 1% que tem 99% da riqueza continua a roubar os 99% que vivem com o 1%, e as igrejas sugerem ao segundo grupo que ajude os pobres. Os pobres ajudam os pobres. Os ricos enchem a pança com a pobreza. Alimenta-se a dívida, aquela que já concluímos que a Terra tem para com o retrógrado do Mercúrio...

 

Por entre toda a destruição de alicerces básicos. Por entre o esbater dos direitos humanos. Perante o retorno ao lado mais negro dos tempos idos, as multidões erguem-se para o descontentamento. Porquinhos com as suas casas de palha, a votar nos lobos que já nem sopram... mandam soprar. Porquinhos a soprar as palhas de outros porquinhos. Todos desalojados e livres de direitos, em vez de livres por direito.

 

Dou por mim a chamar pela minha mãe e pelo meu pai, para que me acordem do terror noturno, que também é diurno. - Talvez Freud explique. - Mas não estou a dormir. Estou acordada e a perguntar como é que Darwin explicaria esta “evolução” regressiva.

 

Li um dia, algures, uma frase atribuída a Emir Sader: “Se um macaco acumulasse mais bananas do que pudesse comer, enquanto os outros macacos morressem de fome, os cientistas estudariam aquele macaco para descobrir o que raio estaria a acontecer com ele. Quando os humanos fazem isso, nós pomo-los na capa da Forbes”.


Penso que tudo está ao contrário. Até a ciência. Até Darwin. Talvez porque não são tempos de “dar” nem de “ganhar” (win). Talvez porque são tempos de roubar e perder. Quero uma teoria nova. Sobre esta doença estranha. E uma cura que não passe pelas grandes farmacêuticas... ou não poderíamos pagá-la.

 

Marina Ferraz


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1 comentário:

  1. Grande texto, que determina reflexão! A chave genética de um espécie poderá levar a um sucesso tal de domínio no planeta, que determine uma evolução regressiva ou à própria auto destruição?

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