É o diluir das horas que me fere. Qual tortura lenta que me escorre pelo corpo, deixando a marca fria de uma saudade de fel. É o diluir do tempo que me deixa sozinha em mim, longe de mundos por devir e no desespero de saber irreais todos sonhos que guardei.
O desespero e a desilusão não passam de duas crianças incoerentes, caminhando de mãos dadas pelas minhas veias e brincando, despreocupadas com as batidas glaciais do meu coração. E as horas diluem. É a canção ilógica e compassada do relógio que segue, segundo a segundo, rindo da minha solidão.
O tempo escorre-me por entre os dedos. E eu tento fechar as mão em concha e mantê-lo lá, parado, até ser hora de te ver de novo. Mas ele escorre, gota a gota, obedecendo ao tic-tac do relógio, obedecendo às ordens do pêndulo velho que dança hipnoticamente à frente do meu olhar cego de alegrias.
O tempo não pára. Segundo a segundo transforma dias em anos e anos em pequenas eternidades cruas. É o diluir das horas que me fere. Os segundos eternos em que tardas, as eternidades curtas em que sinto que vou ficar bem mas que desvanecem e evaporam, que morrem passado um segundo.
Não há paz alguma para quem vive de sonhos. Somente dor. Somente desilusão. Somente a certeza inquebrável de que acordar seria ainda pior. E encosto a cabeça na almofada, ao som dos ponteiros do relógio que avança. E os ponteiros tardam cada vez mais, retardando cada batida e ditando a velocidade das batidas do meu coração.
Peço que parem. O tempo e o coração. Tão loucos, os dois. Tão iguais nessa loucura. Tão barulhentos por entre o vazio que me ecoa na alma. O diluir das horas fere mas eles não param. Perdem-se nos minutos e nas horas que me plantam eternidades no peito. E a dor, de tão longamente sofrida, enraíza-se mais, por caminhos novos e rouba-me as ilusões.
É o diluir das horas que me fere. E, fechando os olhos, a ferida alastra. Até os meus sonhos têm agora o sopro dessa realidade crua. Até os meus sonhos têm a noite eterna. Essa noite que se faz trevas e dança ao compasso dos ponteiros do relógio, moendo-me a alma nas horas de solidão.
Marina Ferraz
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Este trecho você tirou da internet ou faz parte de algum livro seu?
ResponderEliminarNão é trecho de um livro mas é um texto meu mesmo. Todos os textos do blog são de minha autoria! Tenho um livro publicado mas é de poesia... Beijos
ResponderEliminarmuito lindo , adoro quando ak alma dita e o coraçao escreve . Fatima Domingos d Carvalho
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