Todos os dias.
Todos os dias de manhã eu acordo. Preguiçosa, sem vontade de
me levantar, sem qualquer sombra de acção em mim. Todos os dias. O despertador
toca, insistente, ao meu ouvido e eu arrasto a mão no seu sentido, com o desejo
de o silenciar para sempre. Todos os dias. Como se não houvesse possibilidades
mas apenas rotina, todos os dias dirijo pensamentos escabrosos àquele som agudo
e envio mentalmente a sua mensagem para o infinito num tom e linguagem
inapropriados, apenas admissíveis pela sua não reprodução oral.
Todos os dias.
Todos os dias de manhã começo a acordar, lentamente, feito
criança, da noite curta e mal dormida, recheada de pesadelos e reviravoltas. E
todos os dias, qual menina teimosa e mimada, agarro-me à almofada, como que
recusando a dádiva do dia que chega. Todos os dias. O cansaço toma conta de
mim, pela madrugada e a moleza diz baixinho, dentro de mim, "só mais cinco
minutos".
Todos os dias.
Todos os dias contrario o desejo de me quedar novamente no
sono e abro um olho indolente, na direcção da cama que me abriga. E, por vezes,
o olhar perde a indolência na consciência de que dormes a meu lado. Dormes ao
meu lado e está na hora. Desperto, nesse olhar sobre ti. Esse olhar que se
perde na perfeição de uma vida que começa, não no toque agressivo do
despertador mas no teu semblante adormecido. E sorrio, pela manhã que começa
nesta vida perfeita.
Todos os dias.
Todos os dias me levanto do calor dos lençóis e dos teus
braços, na força de saber que me levanto para ser tua. Todos os dias me levanto
do sono para viver o sonho que é ter-te a meu lado. Todos os dias. A bênção
corre pelo meu corpo cansado. Lava o cansaço de mim. Leva a vontade de
permanecer adormecida para o dia que nasce lá fora.
Todos os dias.
Todos os dias me levanto, vou fazer café e to levo à cama. E
todos os dias o faço, lançando um olhar de soslaio aos Deuses e agradecendo a
felicidade que é o toque do despertador a acordar-me para uma vida ao teu lado.
Sento-me junto a ti e beijo-te nos lábios. Sinto a paz e a alegria onde antes,
tão teimosamente, havia apenas o cansaço, o sono, o desejo de retornar à
inconsciência. Sinto o que não é dizível, explicável, enumerável ou seja lá o
que for. Sinto. Sinto para dentro porque não sei pôr cá fora essa forma de
sentir.
Todos os dias.
Todos os dias o sol acorda para o mundo e eu acordo para ti.
E todos os dias olho com incompreensão para os primeiros segundos do dia, que
desperdicei a praguejar com o relógio que, afinal, me dizia apenas que era hora
para me apaixonar outra vez. Porque é isso que eu faço. Apaixono-me.
Apaixono-me por ti. Todos os dias.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Me encanta em viver em segundos em lindo como sempre envolvo-me...parabens
ResponderEliminarÉ muito lindo, um texto maravilhoso :) ♥♥
ResponderEliminarcomo não mergulhar neste aquario de fantasias amo...
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