Creio que tenho sido profundamente injusta com a classe política portuguesa. Talvez lhes deva um pedido de desculpas. Talvez devesse dar as costas à chibatada e, por minha própria iniciativa, permitir ou até incentivar que continuem - agora com maior facilidade de sua parte e voluntarismo de minha – esse árduo trabalho de me reduzir o corpo a carne moída para lhes alimentar as anafadas contas bancárias. Sim! Eu tenho sido injusta. Cruel. Dona de um esquerdismo incompreensível. Woke. No mínimo, talvez devesse reunir os textos antigos em frente ao parlamento, atar-me à estaca central e pedir que lhes ateiem o lume.
Eu realmente interpretei mal o texto. A intenção. Com olhos cheios de mães a terem e perderem filhos em ambulâncias, pessoas a verem casas (podemos chamar casas a barracas?) demolidas, gentes trabalhadoras sem dinheiro para rendas, que se reúnem nas ruas para viver a vida frugal da miséria, imigrantes atirados para fora das fronteiras outrora hospitaleiras. Com olhos cheios de mulheres a serem violadas e mortas, de uma desatenção crítica às crianças que morrem à fome além-fronteiras, de florestas queimadas por interesses económicos, de empregos roubados pela inteligência artificial, de impostos sufocantes que dão aos trabalhadores independentes a vontade de não viver de todo, de ódio assassino nas ruas. Com os olhos cheios de tudo isto e tanto mais do que isso, eu falhei na arte de ver a realidade. Foi um mal entendido! Como queria, agora, redimir-me de todas as críticas que fiz! Como queria, agora, ter a máquina do tempo que me permitisse retirar toda a verborreia que utilizei para atribuir títulos malogrados e toda uma diversidade de impropérios àqueles que, claramente, tentavam apenas manter-se coerentes com as ideias propagadas.
No centro das suas intenções – escritas em programa – ditava-se a intenção, desde o começo: erradicar a pobreza.
Calhou-me a mim – logo a mim, que tanto estudei e fiz por ganhar alguma cultura – a asnice de não entender que tudo o que foi feito foi neste sentido. O de permitir um país melhor. Menos pobre. Mais convidativo. Deveria ter entendido, antes de discursar contra o sistema. Pobre tola! Tudo era estratégia. Tudo era tática. E poderá estar a correr sobre rodas, rumo ao futuro que se quer. Afinal, qual a melhor forma de erradicar a pobreza, do que erradicar os pobres?
Génios! São génios que temos a governar-nos. E realmente talvez salvem Portugal.
Pena tenho de quem votou neles, julgando que faria parte desse Portugal que vai ser salvo.
E que agora espera na fila, para arder comigo.
Para que a pobreza seja erradicada.
Se quiserem adquirir o meu livro "[A(MOR]TE)"
enviem o vosso pedido para marinaferraz.oficial@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário