Costurei. Na minha condição. De bicho. De mulher. É para
isso que servem as mulheres. Para costurar.
Comecei por bordar a ponto pé-de-flor o sonho de não ser.
Porque o sonho de ser estava estampado de origem no tecido de mim. Bordei o
sonho de não ser essa mulher que é apenas o que se diz que a mulher pode ser.
Ponto a ponto. Vai à frente e volta atrás. Recusando-me a
ser flor. Recusando-me a ser ponto. Recusando-me a ficar aos pés de seja lá
quem for.
Mas bordar a ponto pé-de-flor esse sonho de não ser não foi
suficiente. Bordei a cheio o desejo de não ficar no vazio convencional das
coisas limitadas. E não! Não mantive o ponto dentro das fronteiras.
Ultrapassei-as de propósito. Farta de barreiras. Farta de normas. Farta de
limites.
Borde a recusa a ponto cheio. Um basta. Um chega. Não quero
estar vazia!
Bordei. Bordei a rechelieu o grito que traçou as minhas
próprias fronteiras. Em redor das minhas formas e dos meus vazios. Em redor das
minhas próprias convenções, que se faziam ervas daninhas e proliferavam no
centro das histórias que também era eu a criar.
Bordei. A ponto cruz. Fiz cruz sobre as coisas atiradas,
insistidas, dissimuladas, intrínsecas e estapafúrdias. Tracei. Cruz atrás de
cruz, feito rasura sobre o que se dizia que eu devia ser. E de cada cruz fiz
estandarte. Não! Não sou essa mulher que se diz! Não sou essa mulher que se
limita! Sou outra coisa… Sou algo que nasce e ascende, que cria novos limites.
Sou quem quiser ser.
Costurei. Como se quer que uma mulher faça. Só que à minha
maneira. O que descobri? A agulha é uma espada. E o que está roto, a precisar
de remendo, é a sociedade.
*Imagem retirada da Internet
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e tu quebras magistralmente as fronteiras.
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