Quem rouba o brilho dos teus olhos. Uma história de ódios
sem nome, construídos na desonra do tempo que não passa e sempre retorna ao
amanhã. Um sopro de dor. Que se veste de sonho. E se deixa cair na ilusão
irregrada. Até não saberes. Até não veres. Até negares. Que o tens. Que alguma
vez o tiveste. O brilho nos olhos.
Mas tu tiveste. Eu vi. Eu sei. Ainda que não vejas. Ainda
que não saibas. E tenho medo. Por ti. Pelos teus olhos. Esses onde alguém
insiste em beber luz. Drenando brilhos. Drenando sonhos. Transformando tudo em
poeira. Baça. Macilenta. Cheia de nadas que se somam e se somem.
Dos espaços carregados entre dedos que se abraçam até
embranquecerem. Com as lágrimas que se secam e se fazem chuva de verão. Com os
poemas que se calam nos silêncios sossegados ou desassossegados do peito em
chamas. Conceitos. Todos em forma de gente. Mas sem humanidade que reste. À
medida que se alimentam, aos poucos, dos fragmentos desiludidos de ti e das
tuas ilusões. Roubando. Tanto. Quase tudo. Juntamente com o brilho. Aquele que
tinhas. E que trazias. Nos teus olhos.
Quem rouba o brilho dos teus olhos. Por falta de brilho; ou
de brio; ou de coração. Uma história de morte que se dá nos batimentos de um
coração. Que diz amar. Mas que ainda não aprendeu que o amor não existe senão
numa partilha entre iguais. Que se querem. Que se completam. Que acendem o
brilho nos olhos, em vez de o apagar.
Dói. Eu sei. É um entendimento que supera as palavras que
nunca dizes. Um entendimento que só tem quem se espelha e reconhece, num rosto,
outro rosto. Onde os olhos perderam o brilho.
Não tenho pena de ti. Nunca vou ter pena de ti, embora te
saiba vítima de bestas e lanças de desamor. Porque te sei gente. Porque te sei
forte. Porque sei que podes reacender o brilho dos teus olhos.
Não é hoje. Não é agora. O mundo peca mais por demoras do
que por falta de ação. Mas virá. O dia. O dia no qual o brilho roubado será
arma. Explosiva. Nuclear. Transformando as mãos que roubam num despojo
ensanguentado e em cacos de carne pelo chão que pisas. E, delas, estrelas
ascendentes serão luz. Voltando ao seu lugar. Na pureza de ti.
Preocupa-me que a hora tarde e os danos que a sua tardia prece
deixa na mágoa de ti. E cria-se, por isso mesmo, um ódio muito simples por ela.
Essa pessoa. Essa que rouba o brilho dos teus olhos.
Fico a pensar. E se os teus olhos, que eram todos brilho,
não lembrarem mais? E se nunca mais seguirem a dança dos teus lábios? E se
nunca mais sorrirem, feito pequenos sóis, no inverno das ruas sempre frias da
humanidade? Mas não deixo que o medo me apague a fé da mesma forma que apagou o
brilho. Esse. O dos teus olhos.
Levo em mim mil feitiços. Proteção desajustada de sal,
sangue e sálvia. E prometo a minha alma ao sol, numa prece para que também os
teus olhos o sejam. Abraço a honestidade das coisas frias e sei. Sei quem rouba
o brilho dos teus olhos. E por isso sei que lhe hão-de queimar as mãos. Porque
há coisas que não podem ser apagadas. Nem usadas. Nem manipuladas. Mesmo quando
se roubam. É teu. Esteja onde estiver. O brilho. Esse dos teus olhos. Que
alguém roubou.
Quando o quiseres, vai ser teu outra vez.
Até lá, meu amor, para que não te ensombrem os olhos que
choram, fica com o meu.
*Imagem retirada da Internet
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