Caros/as leitores/as,
Eu nasci nas mãos imaturas dela. E ela não era ninguém. Sentava-se e escrevia. Raramente relia os textos antes de os publicar. Ainda tem esse hábito. É um bocado irritante, confesso...
Não me entendam mal. Também nunca houve muita gente a ler-me, pelo que os erros dela não me afetam. Afeta-me, isso sim, o facto de ela olhar para mim como uma espécie de lembrete da sua própria alma, como se eu não tivesse uma vida própria, uma identidade, um pensamento.
Sim! Eu tenho-o. Porque eu não sou o Monstro. Eu sou os Segredos que ele tem. E moro atrás do que ela não diz. Se é que há realmente algo que ela não diga.
Ao longo da história que eu tenho,
ela criou-me vidas. Mudando-me o nome e o rosto a bel-prazer, sem que eu
tivesse palavra a dar sobre o assunto. Vejam bem: houve um tempo em que até
tentou macular-me a face com publicidade. Não funcionou porque não fazia
sentido nenhum. Se ela não teve o senso de o saber, a Internet teve... talvez
por isso se chamasse Ad-sense.
Semanalmente, eu tenho sido o veículo que vos traz os textos, da mesma forma que as nuvens trazem a chuva. Recolho-os, fazendo-os evaporar da alma dela e enchendo. Depois choro e faço poças de pensamento que conspurcam as mãos de filosofias e palavras quando correm o feed das vossas redes sociais. E as pessoas pegam na filosofia. Elogiam-na ou criticam-na. Mas sempre usando o nome dela e nunca o meu.
Esquecido e desamparado, sinto-me como um taxista, a levar as mensagens dela até vocês, sem que ninguém queira, na verdade, saber de mim.
Olhando para ela. Com olheiras fundas e ar de quem inveja os mortos, a escrever textos que não revê e publica, assim em cima do joelho. Olhando para ela. Que me usa uma vez por semana e se esquece de mim no resto dos dias, como se eu fosse uma vida só à terça-feira. Olhando para ela. É assim que vou caminhando pelos anos. Crescendo. Persistindo. Sendo.
Hoje é o meu décimo sétimo aniversário. E sim, eu sei que devo soar ao adolescente irritado e problemático, com uma crise qualquer. Mas hoje não quis que ela viesse para aqui falar dos problemas do mundo ou das paixões dos dias, nem mesmo das danças, da embriaguez e da importância da família. Hoje, quis falar de mim. O filho-breve que sobrevive à passagem do tempo.
Se fosse ela a escrever, sei que falaria de amor. Porque ela não sabe fazer outra coisa. Há coisas que não mudam. Mas, como sou eu, não quero falar de amor. Quero falar de mim. Dos Segredos de um Monstro. De como, semana a semana, dou algo ao mundo, como se parisse verdades universalmente grandes sobre a pequenez desse Monstro que ela sempre foi e continuará a ser.
Estou cansado. Muito cansado. Mas vivo. E, embora eu ache que ela devia rever os textos com mais cuidado, escrevê-los com mais tempo, dedicar-se mais a mim... o facto é este: eu sei que uma parte deste sentimento é inveja d’ [A(MOR]TE). Porque queria ser mais o centro dos dias dela. Porque queria ser mais o nome que ocupa estantes de livrarias. Porque – porra! – sei que ela me ama e eu a amo. E acabamos os dois. Sempre. Apesar de tudo - ao longo destes 17 anos da minha vida - a falar de amor.
Vosso, (dela e do Mundo)... há 17 anos,
Segredos de um Monstro
Se quiserem adquirir o meu novo livro "[A(MOR]TE)"
enviem o vosso pedido para marinaferraz.oficial@gmail.com
Ler esse desabafo do blog me fez refletir o quanto lê-lo me transformou e não havia agradecido em nenhum momento por sua existência, o monstro, mas também seus segredos tocaram e tornaram minha vida mais significativa. Muito obrigado por essas existências :)
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