Digo-te que és uma pessoa de merda e respondes-me que há piores. Calo-me. Olhas-me vitorioso. Achas que ganhaste a discussão. Não ganhaste porra nenhuma. Mas, como se diz em bom português: leva a taça!
E por falar em bom português...
Quando eu te digo que és uma pessoa de merda, isto não é uma comparação. É uma afirmação. Uma constatação. Mero relato da pessoa que és e que serias, mesmo que não existissem os outros. A condição do outro não altera a minha certeza de que o sejas.
Eu poderia ter dito que és a pior pessoa do mundo. O que estabeleceria uma comparação. Tu contra o mundo. Mas estarias habituado, não é? É mais fácil olhar para fora, que os olhos, quando giram na órbita e olham para dentro veem só o buraco. Negro. Desse vazio emocional que compõe a tua ausência de dignidade e empatia.
Pensas que estou a comparar porque comparas. Vês sempre os outros por escala comparativa. Caixa etária, donatária, sectária, orçamentária, hereditária, tributária. Uma lógica sectária, um bocadinho otária, se queres que te diga... e cheia de áreas onde a pária... meu amigo, és tu. Porque colocas as pessoas em caixas étnicas, mas nunca nas éticas e te excluis da segunda, ainda que involuntariamente, com todas as palavras que dizes.
Tens o dom de ofender qualquer pessoa que, por destino ou bonança, não seja tu. Ofendes os pobres, os refugiados, os negros, os “monhés”, as mulheres, os homossexuais, os teus inimigos, os teus amigos, a tua mãe e os teus animais de estimação. Se tivesses uma quinta, aposto que ofendias a vaca, entre ruminar e ruminar. Orgulhas-te disso. Ganhaste um prémio por narcisismo... mas não foi a medalha de ouro, pelo que também devem existir narcisistas piores.
Digo-te que és uma pessoa de merda e respondes-me que há piores. Calo-me. Olhas-me vitorioso. Mas entende. Quando eu te digo que és uma pessoa de merda, isto não é uma comparação. É uma constatação.
Perdes aos pouquinhos o sorriso arrogante e tentas dizer-me todo o bem que trazes ao mundo. Ancoras a tua falta de quase tudo na falta de quase tudo dos outros. Há muita gente assim no mundo. Talvez. E é por isso que o mundo está como está.
Irrito-me um bocadinho. Despeço-me. Vou para casa e escrevo um texto sobre o português corrente. Essa diferença entre comparações e constatações.
Comparo este texto ao último e ao próximo (que ainda não está escrito). Concluo que é um texto de merda. Mas há textos piores.
Sorrio.
Às vezes não é constatação nem comparação. É desabafo.
Disse à minha gata que ela é uma boa gata.
Ela ronronou.
A melhor gata do mundo. Constato, comparando.
Eis uma frase que é uma constatação e uma comparação! Para um ser sem comparação possível, que já me acalmou depois de ter lidado com uma pessoa de merda, mas que sabe que, algures, por entre sete mil milhões de almas, alguém deve ser pior do que ela.
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