terça-feira, 21 de novembro de 2023

Expoente máximo

 


O expoente máximo do amor é visto na dificuldade. Porque falar de entrega é mais fácil do que entregar-se, e falar de amor é só dizer uma palavra simples, pequenina, de leitura imediata e que nem faz gaguejar. Gosto de quem se identifica com o antigo e reconhecido cartoon dos velhotes à chuva. E entendo que, na minha vida, há muita gente sobre quem eu colocaria o guarda-chuva. Também sei que há algumas pessoas que o colocariam sobre a minha cabeça. Saber disto e não cuidar do outro é, talvez, o expoente máximo da estupidez.

 

Tenho visto muitas costas voltarem-se. Às vezes por razão nenhuma. Às vezes porque os ressentimentos, acumulados nos anos, explodem. Nós que, quando se desatam das gargantas, já vêm com o podre bolorento do que não foi dito. Silêncios que se prolongam e deixam desconforto sentado no lugar… vazio. E um amanhã que parece feito de muitas desistências inúteis, que serão arrependimento mais tarde.

Pessoas que se amam são mais cáusticas quando se magoam. Porque amar é conhecer o outro. E aceitar ser amado é colocarmo-nos numa posição frágil de abertura do portão mor das muralhas que erguemos aos outros. Magoar quem se ama é atacar por dentro. E são guerras que acontecem simultaneamente em dois campos de batalha, com muitas baixas. São muitas felicidades inocentes que vão morrendo, nesse bramir de espadas de palavra e silêncio, de ataque e de inação.

Por vezes, sento-me no banco que fica entre costas e costas. Tomar posição na guerra é acendê-la. E eu quero a paz. Tomar posição na guerra é incentivá-la. E eu quero sentir novamente o quente coeso dos abraços todos. Noto que as pernas da cadeira estão velhas e gastas. Podres como as emoções superficiais e imediatas que parecem suprimir as outras. Quando a cadeira range, afasto-a. Sento-me no chão com as pernas à chinês. E fico à espera que dele brotem novamente as flores sadias na Primavera que será perceção de que toda a guerra é inútil. Dentro, eu acredito, moram emoções boas. Amor que é amor não morre. Sentimentos eternos não perecem por causa de emoções fugazes.

 

O expoente máximo do amor é visto na dificuldade. Sentada no meu silêncio, tento estender um braço para cada lado, segurando dois guarda-chuvas. A minha treinadora ficaria muito impressionada com este exercício de isometria. Mas estou a ficar triste e cansada. Logo eu que sou feliz e enérgica. E gostava que as guerras parassem.

 

Não quero estar, do meu expoente máximo do amor, a olhar para o expoente máximo de estupidez dos outros. Quero que todos entendam. O passado já foi. O presente vai ser passado. O futuro pode ser escasso. Guerras passageiras não alimentam vidas plenas. O amor? Mesmo quando é difícil. Talvez mais quando é difícil. Esse é o expoente máximo da vida.

 

É só meia volta. De parte a parte. E costas voltadas são de novo um abraço.


 Marina Ferraz




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1 comentário:

  1. Sem dúvida. Tens inteira razão e eu acompanho-te nessas deambulações pelos afectos compreendidos e incompreendidos. Dizem que o amor é uma arte. O problema é haver tão poucos artistas. Beijo grande, do tamanho da distância.

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