Para o Renato Júnior
Ligo-te para a semana. Disseste.
Eu era, sempre fui, esse espetro que não entendias bem. Descrevias-me como “dark” e insistias, com um sorriso que te fazia rir os olhos: letras menos negras, Marina... querias o mundano, o simples, aquilo que faz as pessoas parar, globalmente, com uma identificação direta. E eu sempre fui de escavar as emoções para ir onde dói. De dizer o que as pessoas não querem ouvir. De falar sobre a morte.
Insististe comigo várias vezes. Dizendo-me que as pessoas não querem ouvir falar da morte. E eu insistia em encaixá-la nos versos. E tu sorrias aos versos com os olhos, sem entender. Guardando-os na mesma pasta, esperando que os dedos se envolvessem no piano para que nascesse algo tão denso quanto as minhas palavras. Mas não encontravas canção para a morte. Ou não encontraste até ao dia em que te enviei o “Quando morre o amor”, canção que escreveste de um fôlego e que entregaste à Kátia, para que ganhasse vida. Deste vida à minha morte. À morte do meu amor. E eu não sei se te agradeci o suficiente por todas as canções que criaste com palavras que deixei cair no papel.
Lançaste-me um sem fim de desafios.
Escrever para teatro. Escrever para álbuns temáticos. Escrever para televisão. Alguns
concretizámos... mas também deixámos muitos projetos a meio. E, permeados de
silêncio, eu acompanhava as tuas múltiplas vitórias e tu as minhas. E ia-te
pedindo, a cada evento, “guarda-me um
bilhete”. E íamos dizendo, meio de fugida, a cada encontro “depois ligo-te”.
Ligo-te para a semana. Disseste. Na última mensagem. Isto foi há um mês. Sorrio porque, de algum modo, eras tu a ser tu... com tudo o que tinha de bom e mau, com tudo o que tinha de humano...
Sei que lançaste um álbum inteiro com a ideia de que “uma mulher não chora”. Mas também nunca fui de fazer o que me dizias! E hoje choro, desculpa. Porque, se tivesses ligado, talvez me tivesse esquecido de dizer que tenho saudades tuas. Mesmo tendo. E, hoje, tenho mais.
Digo-to agora. E volto a agradecer-te cada oportunidade e conversa.
Sabes que mais, hoje sou eu que não quero falar de morte.
Cantaremos novamente lá no outro plano. Guarda-me um bilhete!
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Mais um texto maravilhoso, Raquel.
ResponderEliminarA canção, mas também as palavras dirigidas ao amigo. Bjs. És uma grande autora. Desejo todo o sucesso do mundo para o teu talento.
Lindo texto! Como sempre escreves muitissimo bem!
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