
A vida é assim: feita de encontros e desencontros. Feita de eternidades efémeras e de efemeridades eternas. Feita de sorrisos e lágrimas e de lágrimas misturadas em risos de fazer doer a barriga.
A vida é assim: simples e difícil. Longa como a alma e curta como a existência. Feita de momentos irrepetíveis e do desejo intenso de repetir momentos que nem existiram ainda.
A vida é assim: de todas as cores e de todas as formas. Feita de medos, de muitos medos, e de ainda mais motivos para vencer o medo e seguir em frente. Feita de todas as estrelas do Universo num olhar e de um olhar maior do que o Universo.
A vida é assim: o nosso maior pesadelo e o nosso sonho mais lindo. A dualidade de tudo o que é bom e de tudo o que é mau, misturado na certeza de que, um dia, tudo vai fazer sentido e tudo vai estar bem. A vida é feita de dias que passam, de dias que chegam, de dias que ficam marcados na memória para sempre. É feita de lembranças agridoces e de cicatrizes brancas e saradas que, apesar de tudo, são ainda visíveis, como um rastro de luar no oceano.
A vida é assim: feita de lutas. Lutas que ganhamos. Lutas que perdemos. Lutas que não travamos por medo de falhar. Lutas que travamos apesar dos medos. E é feita de falhas, de erros, de decepções. É feita das consequências dos nossos actos. É feita do mais fino pó de ouro dos nossos gestos.
E, no fim, as lutas que perdemos e os erros cometidos podem ser as nossas memórias doces de sorrisos. E as nossas vitórias podem ser esquecidas, apagadas, postas de lado.
A vida é isso! Essa constante inconstância de nunca sabermos o que a vida é. Essa certeza incerta de querermos definir o indefinível. De querermos definir a vida.
Eu não sei o que é a vida ou como ela é. Não sei se, olhando para trás, vou dar valor ao melhor, se vou me arrepender de alguma coisa. Eu sei simplesmente o seguinte: nas batidas do meu coração escrevi uma música sobre a vida. Sobre os dias que me marcaram a vida. Sobre as pessoas que amo. Sobre as pessoas que me feriram. Sobre as portas que abri e as que se fecharam mesmo à minha frente. Sobre as respirações aceleradas e o perder de fôlego. Sobre tudo o que eu trabalhei em mim e no Mundo. E é isso que eu sou: esse trabalho vivido que fiz da vida. Essas cicatrizes brancas que venero. Essas lutas perdidas onde aprendi. Essas pessoas que me marcaram. Esses sonhos que segui, mesmo quando o medo me gritava aos ouvidos. É isso que eu sou: esses erros, tantos, dos quais não me consigo arrepender. Essas histórias tristes das quais retiro todos os sorrisos que esboço. Cresci e vivi na vida. E a vida é a vida. Assim ou de outra forma. E, quando morrer, é isso que eu quero ter sido: alguém que errou, alguém que perdeu, alguém que teve milhões de medos... alguém que viveu como se a vida fosse eternamente o melhor e o pior da eternidade de alguns momentos que realmente valeram a pena.
Marina Ferraz
*imagem retirada da Internet