terça-feira, 15 de abril de 2014

Primeiro encontro



Hoje o sol escondeu-se. Envergonhado e sem jeito, puxou as nuvens, inocentemente, da mesma forma que eu puxo as mantas e escondeu-se sob elas, com um meio sorriso e um brilhozinho no olhar.
Espreitou somente uma vez ou duas, para nos beijar o rosto que sorria. Espreitou para nos fitar as mãos dadas e nos ouvir as conversas e os silêncios e as esperanças para amanhã. Mas voltou a esconder-se, sempre, como se se sentisse a mais. E as nuvens que o cobriam firmaram-se mais e mais no céu, tentando ocultar o meio sorriso do sol, que troçava da forma como olhávamos um para o outro. Os nossos olhares tinham um sol só seu, que fazia aquecer as almas com a subtileza de um verão só nosso.
E, à medida que as mãos se davam e as palavras se tornavam eternas por um segundo, as nuvens alinharam-se com as vontades do universo e permaneceram imóveis, cinzentas, sobre as nossas cabeças, cheias de sonhos de eternidade.
O sol estava escondido atrás das mantas cinzentas. E eu escondi-me atrás de um sorriso e olhei para ti. Olhando para ti, dei-me conta de que o sol não me faz saudades quando estás por perto. Tens nos olhos um céu maior do que o céu. Tens em ti um brilho que se espalha e aquece e demora na pele. E os dedos entrelaçaram-se e dançaram em abraços, enquanto o sol se escondia de nós e nós nos esquecíamos dele.
De mãos dadas, sob um céu cinzento, fomos um universo de cores e emoções. E senti, no bater descompassado dos nossos corações, que as estrelas se alinhavam com um sol amuado e esquecido e cochichavam, atrás das nuvens, sobre uma sina que nos unisse mais do que as mãos e as almas. Sobre uma sina que nos realizasse a plenitude dos sonhos e nos tornasse mais do que dois vultos sob um céu cinzento.
Mas, olhando dentro dos teus olhos, eu esqueci-me que o céu estava cinzento. Esqueci-me que havia céu. Que o céu tinha cor. Que havia alguma coisa além dos nossos olhares perdidos e das nossas mãos dadas.  Esqueci-me. Como se esquece uma lição há muito aprendida, esqueci que o sol se esconde sob a mantas para dar lugar a amarguras. Esqueci-me das amarguras. Sorri.
O sol escondeu-se atrás das nuvens. Eu escondi-me atrás do meu sorriso e mergulhei no teu.
O meu coração estava cheio de sol e as nuvens olharam para nós, ali perdidos em sorrisos, por entre as maldições do mundo.
Então, as nuvens ignoraram o sol que se escondera envergonhadamente sob elas e, como não tinham lábios que se curvassem num sorriso, choraram lágrimas de felicidade...

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

2 comentários:

  1. Anónimo12:03

    Muito bom!

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  2. MUITO EMOCIONANTE, LINDO E COMO NÃO VIAJAR NESTE VAGÃO ONDE PERDURA OS SONHOS,COMO NÃO SE ENVOLVER A ESTA MANCIDÃO DE PAGINAS LINDAS...PARABENS, PARABENS...

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