O meu país está de luto. As pessoas já não se cumprimentam
rua. Ninguém sorri. Os olhares sisudos e cinzentos perdem-se no sujo do passeio
e os pensamentos vagueiam, em fossas tão profundas que se quedam nos olhares e
trespassam as pedras da calçada.
O meu país de está de luto. Crianças pedem esmola perante os
olhares indiferentes dos mendigos de classe média. E os ricos ficam em casa, na
escravidão metálica do dinheiro porque é mais seguro assim.
O meu país está de luto. O meu povo vestiu as faces de negro
e a alma de trevas. E não há cor nas expressões pesadas de quem se cruza
connosco nas ruas da amargura.
Olhando para o meu país não vejo chegar Abril nem vejo cor
nem cravos. Não vejo vontade. Mas também não vejo aceitação, esforço,
solidariedade. Olhando para o meu país vejo apenas o negro de pessoas com
olheiras negras a caminharem em ruas de iluminações cortadas por falta de
verbas.
O meu país está de luto. Aprendeu a viver com os rostos
fechados e as mãos abertas e vazias. Aprendeu a viver sem esperança e sem
consolo. O meu país está de luto porque morreu a alegria de acordar de manhã.
Porque morreram os sorrisos das crianças. Porque morreu a liberdade de escolha.
Porque morreram os sonhos. Então, o meu país cinzento deixa pessoas cinzentas
viver no negro de não saber o que vem depois.
Caminhando pelas ruas, é isso que vejo. Pessoas a
afundarem-se no negro de si para não verem a escuridão alheia. Pessoas de sorrisos
gastos que deixam os lábios desaparecer em linhas severas. Pessoas que já não
sabem que são gente. E caminham todos no seu luto transparente de olhos no
chão. O sol que brilha acima não os aquece. O horizonte ficou esquecido. O meu
povo fundiu-se com o negro das ruas mal iluminadas. E o meu país?!... o meu país
está de luto!
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
a sua maneira de ver a psique humana é muito realista...grande poetisa.
ResponderEliminarTexto muito bom!!! Adorei ler.
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