Tu estás à espera do tempo. Como se o tempo fosse construir
as pontes certas ou determinar um ponto na linha de começo de uma nova
história. Estás à espera do momento em que as estrelas se alinhem e os planetas
se cruzem, para o mapa ser certeiro e a hora exacta. Estás à espera que os
ponteiros se alinhem com as vontades divinas e o horóscopo pendente de um
jornal qualquer.
Tu estás à espera do tempo. À espera que a fortuna te bata à
porta e que o sucesso te defina. À espera de te encontrares nas estradas do
mundo e de esgotares todas as formas de divertimento. À espera de teres
experimentado mais do que a vida tem, de teres conhecido mais pessoas e mais
universos. Tu estás à espera que as marés te arrastem e os ventos te puxem numa
direcção. E vives no medo de que os portos em que ancoras sejam na verdade as
ilhas do naufrágio.
Tu estás à espera do tempo certo para parar. Como se a
viagem não pudesse ser feita senão na solidão de companhias fúteis e
descartáveis. Como se os teus passos se atrasassem no desejo de encontrar algo
diferente do que aquilo que idealizaste. Tu estás à espera das vontades que
superem a tua. Como se a tua vontade fosse sobre-humana mas não bastasse. Como
se precisasses de umas mãos invisíveis que te pusessem no caminho do teu
destino.
Mas eu vou contar-te uma coisa que ainda ninguém te contou:
o destino é teu. O único lugar onde ele te vai levar, se estiveres à sua
espera, é até ao ponto de partida de onde nunca saíste. Tu estás à espera do
tempo. Eu estou à tua espera. E o tempo certo não existe. Algures, por entre
esta confusão de esperas e desesperos, estamos os dois parados em lados opostos
da estação, a ver passar a vida e o mundo.
Tu estás à espera do tempo e eu não tenho tempo para esperar
nada da vida. Algures, entre palavras e tarefas, eu vivo no limiar entre a vida
e outra coisa qualquer, que não é vida mas finge ser.
Tu estás à espera do tempo. Eu estou à espera de ti. E,
enquanto o tempo não vem, vivemos neste compasso sem sentido, à espera do
impossível. Quando dermos conta de nós, teremos os rostos marcados pelas linhas
do Outono e as mãos cansadas de agarrar a esperança. Quando dermos por nós,
estarás à espera que o tempo volte atrás e eu estarei à espera da morte.
Entre a espera e o desespero, neste Universo de sentidos que
não fazem sentido, a guerra é ganha pelos ponteiros do relógio. Porque eles
avançam. Não estão à espera de nada. Não estão à espera de ninguém. Eles sabem
melhor do que nós que mais vale andar em círculos eternamente do que nunca ir a
lado nenhum.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
LINDO ADORO TEUS POEMAS ...ENTRO EM CENAS AO LER E ME ENTREGO AOS DELIRIRIOS DE CENAS TÃO ILOQUENTES FACINANTES... GOSTO DE SENTIR TEUS CENARIOS E VIVO OS AO LER... BJO
ResponderEliminarIncrivelmente perfeito. Principalmente a parte final " Eles sabem melhor do que nós que mais vale andar em círculos eternamente do que nunca ir a lado nenhum." .
ResponderEliminarParabéns querida. Está em minha lista de preferidos.
Beijinhos Jenny ♥
Ohh lindooo amoooo esta poesia,que delinha a alma.
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