O tempo, lá fora, quer-se ameno. O amor não. O amor não é
para ser ameno.
O amor quer-se quente, desenfreado e louco. O amor quer-se
nos intervalos entre a paixão, o medo, o encanto, a luxúria. O amor quer-se nos
recantos ensurdecedores de um coração desaforado. O amor é para ser devasso, às
vezes, para ser intempestuoso, quando calha. Para nos aquecer as almas no centro
do corpo e o corpo no centro da cama, no centro do mundo, no centro da vida. O
tempo, lá fora, quer-se ameno. O amor não.
O amor quer-se em beijos sem pudor e nas mãos dadas pela
rua. O amor quer-se em folias desiguais e na seriedade infantil das horas. De
vez em quando, quer-se que aqueça ao ponto do impossível, que ruborize o rosto
e envergonhe. De vez em quando, quer-se frio, duro, ponderado. O amor é um tudo
e nada instável. Um quente e frio em constante permuta. E é assim que deve ser.
O tempo. Esse deve ser ameno. O amor não.
O amor quer-se por entre a multidão ou na falsa solidão do
deserto. Quer-se à mesa, no sofá, na cama. Quer-se no chão e nas paredes.
Quer-se no corpo vestido e na alma nua; quer-se na alma coberta e no corpo
exposto. O amor quer-se, no temporal das paixões e no calor das amarguras. O amor quer-se quando começa a
ventania, para dar conforto e quando a serenidade pede pelo afago. O tempo, lá
fora, quer-se ameno. O amor não.
O amor é para ser louco. O amor é para rebolar na areia da
praia, para correr por entre as árvores da floresta, para cair nas colinas do
tempo. O amor é para arrancar o riso, arrancar o choro, arrancar o que fica de
permeio entre uma coisa e a outra. É mesmo assim: extremista e ponderado,
instável e volúvel. O amor é para ser explosivo, para ser inteiro, para ser
inconstantemente constante nas nossas vidas. É para ser quente, para ser frio,
para ser cálido ou glacial, para ser soalheiro ou chuvoso. Às vezes umas
coisas, outras vezes outras. Às vezes tudo ao mesmo tempo. Tanto faz. Mas
ameno? O tempo lá fora, sim, deve ser ameno. O amor não!
O amor não nasce para ser insosso, intermédio, cómodo. O
amor nasce invernoso nos Verões. E desafia, puxa os limites, acrescenta pontos,
lima arestas, constrói mundos melhores com pessoas melhores. O amor estimula,
afronta, busca o que fica atrás dos sentidos, constrói sentidos novos, luta
contra os códigos e as convenções e até com as luas e as marés, se for preciso.
O amor pode dar conforto, claro. Mas não pode, não deve, ser conformista,
acomodar-se, amenizar-se. O tempo lá fora, quer-se ameno. O amor não.
O amor é feito de amizade e de paixão e de desejo. O amor é
feito de companheirismo, de ardor, de afeição. E é feito de luta constante: por
um, pelo outro, por ambos... por um lugar melhor, por ser melhor, por ter
melhor. E, tão cheio de tudo, o amor é chama e arde e consome. É terra e céu. E
às vezes, no amor, chove e faz frio. Às vezes faz sol e aquece até ao limiar da
impossibilidade. O tempo, lá fora, quer-se ameno. O amor não. Um amor ameno
seria amor a menos. E amor a menos não é amor. Por isso, embora o tempo se
queira ameno, o amor não. Nunca o amor...
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
"Um amor ameno seria amor a menos." Concordo, se for assim nem vale a pena :)
ResponderEliminarAdorei,o amor tem que ser sentido de forma intensa e verdadeira "O amor é para ser louco. O amor é para rebolar na areia da praia, para correr por entre as árvores da floresta, para cair nas colinas do tempo. O amor é para arrancar o riso, arrancar o choro, arrancar o que fica de permeio entre uma coisa e a outra. É mesmo assim: extremista e ponderado, instável e volúvel."
ResponderEliminarParabéns querida
Beijinhos Jenny ♥ ♥