Podia falar-te da dor. Conheço-a bem. Andámos na mesma
escola e partilhámos a vida durante muito tempo. Sei que ela não é compreendida
por todos, embora, cedo ou tarde, todos acabem por se dar com ela e a acolham
no peito, por mais ou menos tempo.
Sim. Podia falar sobre a dor! Todos a conhecem. Mas eu
entendo-a. Entendo-lhe a alma amargurada e a necessidade de se fazer presente,
de se fazer notar, de aparecer e de tentar permanecer nos recantos e permeios
de todas as partes da vida. Conheço-a bem. Por isso, podia falar sobre ela.
Mas eu não quero falar-te sobre a dor. Acredito que a
compreendesses, como eu. Que entendesses e até aceitasses que, em alguns
passos, ela foi chão em vez de abismo. Talvez acabasses por lhe agradecer,
admitindo, como tantos antes de ti, que ela te ensinou mais do que alguma vez
poderia roubar-te. Mas eu não quero ser a pessoa que se senta e te explica que
conhece a dor, que a trata pelo nome. Não quero ser a pessoa que te convence
que existe uma razão, seja qual for, que valide o sofrimento. Haveria mil
razões. Mas para quê? Sofrer já dói o bastante sem o peso da justificação.
Não! Não vou falar-te da dor, embora pudesse fazê-lo. Seria
simples. Conheço-a bem. Mas, no cultivo constante deste amor por ti, compreendo
que não é a dor que quero trazer para o centro das nossas conversas.
Eu quero amar a sorrir. Quero amar a sorrir porque estou
farta de amar a chorar. Passou o tempo das lágrimas. Elas saíram de moda e eu
já não quero usá-las. Cansei-me de abraços desertos à almofada molhada.
Cansei-me de dizer boa noite à solidão entrecortando a palavra com o gemido
cansado do choro. Eu já amei a chorar, nos tempos em que conheci a dor. E
chega! Agora quero amar a sorrir. Não quero falar-te da dor.
Durante muito tempo, esperei. Julguei que esperar podia
trazer-me de volta o que nunca tive. Julguei que, se chorasse o suficiente, os
Deuses entenderiam a necessidade que guardava de ver esse retorno acontecer. Os
Deuses viram. Viram, mas sabiam da vida e do mundo coisas que eu não podia aprender
de outra forma que não esperando. E, sem fazerem nada, ensinaram-me bem a
lição. Não quero falar-te da dor. Não importa quão bem a conheça. Não quero
falar sobre ela.
Podia falar-te da dor. Essa que toda a gente sente. Uns de
propósito. Outros sem querer. Outros, ainda, por não saberem querer outra coisa
ou que existe outra coisa para se desejar. Mas estamos aqui. Tu e eu. E já não
é tempo de amar com lágrimas nos olhos. Por isso, mesmo podendo falar-te da
dor, não vou fazê-lo. Não vou fazê-lo porque hoje sei... A vida não tem um
prémio para quem sofrer mais. Ser triste é apenas ser triste. Ser feliz é outra
coisa. E a recompensa é essa mesmo. Ser feliz.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Finalmente consegui voltar a comentar,vou tentar comentar todos os textos que ainda não tinha comentado,mas se não o conseguir comentarei a maioria porque são bons demais para não deixar minha opinião em cada um :)
ResponderEliminarEsse texto é leve,livre e eu simplesmente adorei as palavras,minha parte preferida é "Ser feliz é outra coisa. E a recompensa é essa mesmo. Ser feliz."
Muito bom mesmo
Parabéns querida
Beijinhos Jenny ♥ ♥