Vivo nas terras da igualdade. Aqui, não se olha a posses,
nem a roupas, nem ao tamanho. Não se olha a nomes. Nem a distinções.
Vivo nas terras da igualdade. Dentro das suas fronteiras não
há separações. No seu centro não se categorizam pessoas como se fossem objetos.
Somos todos feitos da mesma matéria. Somos todos olhados da mesma maneira. Sem
distinções.
Não duvidem: existem. São as terras da igualdade. Essa que
se debate nos canais televisivos e que os sociólogos dizem ser impossível. Não
é. Existe. Vivo lá. Nas terras da igualdade, onde não se usam separadores entre
as pessoas, para as associar a este ou a outro grupo.
Vivo nas terras da igualdade. Seja rico ou pobre. Gordo ou
magro. Branco, negro, mestiço. Saudável ou doente. Católico ou pagão. Nacional
ou estrangeiro. Não importa. São todos iguais. Dizem mal de todos.
É verdade. Mal. Olham todos com o mesmo desprezo e de todos
constroem histórias que contam, em surdina, assim que, de costas voltadas,
fazem cessar o medo das represálias. E não medem a forma como dizem as palavras
– essas que também são iguais, sejam verdade ou mentira. E vão por aí, sem
fazer distinção. Dizem mal de todos. Na mesma medida. Frequentemente pelo mesmo
motivo. Por vezes alterando, na semântica e no tom apenas algumas nuances para
que não se denuncie a pequenez de espírito.
Vivo nas terras da igualdade. Ninguém escapa à rotina da
palavra lançada em tom de boato. Não importa a condição nem a conduta.
Espezinham-se gentes sob os pés alheios. Toda a gente é juiz. Toda a gente é vítima.
Toda a gente é carrasco.
Sim. Elas existem: as terras da igualdade. São feitas desta
linha de tear desgostos. E nelas se enlaçam mentiras e verdades, até que se
fundem num único momento de aspereza onde todos são igualmente miseráveis.
Vivo nas terras da igualdade. Vivemos todos sob o olhar
atento da censura. Morremos todos sob o olhar atento da cidade. E ganhamos
todos, com a morte, uma condição de pureza que, em vida, nos foi negada.
Na minha terra é essa a excepção. Todos são maus. Todos são
condenáveis. Todos merecem sofrer. Excepto o morto. O morto é a melhor pessoa
do mundo.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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Nem sei o que dizer desse texto,acho que foi um soco bem dado na cara hehe,e ficou realmente incrível.
ResponderEliminarO trecho que mais me impressionou foi "Vivo nas terras da igualdade. Vivemos todos sob o olhar atento da censura. Morremos todos sob o olhar atento da cidade. E ganhamos todos, com a morte, uma condição de pureza que, em vida, nos foi negada."
Parabéns querida :D
Beijinhos,Jenny ^.^
É tão verdade o que diz no seu texto. Está magnificamente bem escrito e a "revelação" da terra de igualdade é ... bem ... um choque. Infelizmente vivemos todos nesta terra triste, muito triste! A sorte é morto, que é a "melhor pessoa do mundo"! Obrigada pela oportunidade de ler e parabéns pelo seu trabalho! =)
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