Aviso: O texto que se segue contém linguagem forte que pode ser considerada imprópria e/ou obscena.
No riso fácil. A rir porque os outros riem. Sentam-se
idiotas em cadeiras. Aplaudem de pé. No fim. E vão com sorrisos para casa. Se
era humor? Era. Inteligente? Não sei. Porque foi fácil o riso descomprometido
nas temáticas que se contorceram por entre as paredes de frases feitas e
asneiras mais ou menos agressivas. Defendo. Hoje. Essa forma de humor. O humor
para idiotas. Esse. Porque sejamos francos… ninguém entende o humor
inteligente.
Claro que a desmistificação conceptual das ideias
pré-feitas, pré-concebidas e pré-divulgadas causa um qualquer transtorno nas
mentes pré-brilhantes. E é fácil o riso na ideia de que é ridículo. Quando
olhamos as classes e as reduzimos a estereótipos. A loura burra. O preto
ladrão. A fufa feminista. O gay afemininado. Tem piada. Para dez por cento da
sala pelo senso completo de ridículo que medeia o estereótipo. Para noventa por
cento da sala porque pensam “é mesmo assim”. E tem piada. Suponho eu. A menos
que se seja loura, ou preto, ou fufa ou gay…
O humor inteligente fere. O humor para idiotas não. É muito
engraçado falar na cona da Maria, que abre de segunda a sábado e fecha aos
domingos para ir à missa. Claro que, para alguns, é engraçado pela noção beata
do que se faz de hipocrisia pelo mundo da religião. E para a maioria é
engraçado ouvir falar da cona da Maria.
Vamos caminhando. De mãos dadas. São muitos idiotas a
acharem-se inteligentes e muitos inteligentes a acharem-se burros. Esta, em si,
é uma piada que não se conta. Mas vive-se. Mesmo fora dos serões de anedotas. E
as piadas sobem as paredes da nossa carne. Fazem piruetas nas nossas cabeças. E
dizem alto. Em tom de enunciação. Rir é o melhor remédio.
Talvez seja. Rir. Um remédio. Mas o estereótipo é uma
doença. E cada vez que nos rimos da loura que acha que dois testes de gravidez
positivos significa que está grávida de gémeos; estamos a dizer a um patrão
que, se contratar uma rapariga loura para secretária, terá, provavelmente, os
envelopes arquivados e as cartas recicladas. Cada vez que nos rimos do gay no
Titanic que não sabe se deve entrar no bote das mulheres ou no dos homens,
estamos a obrigar a sociedade a confundir noções de sexo, género e sexualidade.
Cada vez que nos rimos porque branco que corre é atleta e preto que corre está
a fugir da polícia, perpetuamos o medo social com base na raça. Mas tem piada.
Não tem? Claro que tem! Vamos todos rir muito alto. Desse remédio. Porque ele
vicia. E nos protege das agressões quotidianas do bom senso, não vá ele
penetrar a pele e atingir algum órgão vital!
Viva! O humor para idiotas! Esse que provoca convulsões no
rosto e dores na barriga. E vivam os que não entendem a ironia dos seus
sentidos mas gostam de ouvir a palavra “caralho” e “foda-se” no fim das frases.
O humor inteligente. Essa forma de piada que se esconde das
pessoas. Francamente! Não posso defendê-lo. Vale apenas que todo o humor
inteligente seja, também, humor para idiotas. Porque, esta é a maior piada de
todas: o humor é só humor. Inteligentes e idiotas são as pessoas que o ouvem.
Numa sala em peso que ri, não rimos todos do mesmo. E não levamos todos o mesmo
para casa.
Alguns levam desconfortos colocados nos risos. Outros levam
casualidade e palavrões nos lábios. Cada um leva, do outro, o que transportava
já. E são muitos ódios, muitas noções falsas, muita leviandade carregada nos
corações que riem.
Hoje defendo. O humor. Para idiotas. Uma salva de palmas a
todas as “conas”, “caralhos” e “foda-se” que causam uma sensação de eufórico
contentamento e impedem (algum)as pessoas de ler nas entrelinhas as coisas que
não têm piada nenhuma. Como a morte da equidade. Em cada palavra.
Aplaudamos de pé!
Marina Ferraz
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