Amo-te.
E, porque te amo, sei coisas sobre ti que ninguém sabe. Como
a cor dos teus olhos quando estás triste.
Porque te amo, sei de cor todas as palavras dos teus
silêncios e faço dissertações das parcas palavras que me escondem universos de
sobrecarga. Porque te amo, não te obrigo a falar mas insisto em ler-te, feito
livro, nos passos e expressões. E, olhando para mim, eu acho que tu sabes que
eu sei muito mais do que as conversas nos deixam partilhar por entre a
simplicidade dos temas mais vagos.
Porque te amo, amo a sensação dispersa de que retiras de um
abraço dado “porque sim”, alento para as mágoas que não dizes. Então, tenho mil
abraços para dar, na esperança de que algum te envolva o corpo no local onde
sangra essa ferida imaginária que eu apenas imagino.
E, se calha olhar para ti quando estás ausente, vagueando
pelas memórias e os sonhos, tentando matar ambos com ideologias ainda sem
corpo, eu entendo que, venha o que vier, não existe no mundo uma única nuance
que possa roubar de mim o desejo e a vontade intensa de passar contigo
eternidades em segundos.
Porque te amo, conheço-te bem os traços da beleza que,
começando na pele, entra nos poros e chega até à tua alma e até ao teu coração.
Tens um coração dócil, embora sejas fogo. Tens uma alma cautelosa, embora sejas
acutilante. E é neles que respiro fundo a sensibilidade meio orgulhosa que me
faz crer que fiz parte dessa construção.
Não há. Não existe. Nada. Ninguém. Nunca. Não há o que possa
mudar a minha imagem de ti. Porque sou cúmplice até dos crimes que não sei que
cometeste. Porque o seria, ainda que soubesse de cor a sua solidez.
Não concordo sempre contigo. Mas estou sempre contigo. E não
te largo a mão nem que acabemos as duas no fundo do mesmo abismo. Se cairmos,
não faz mal. Temos asas. Tu e eu. Ainda que eu o saiba e tu ainda não. Talvez
descubras na queda. Ou talvez uses as minhas. As minhas asas vão bastar,
enquanto não abrires as tuas.
Quero que sorrias. E que sofras, também, de vez em quando,
porque a dor te acrescenta conhecimentos sobre ti mesma e sobre o mundo que te
acolhe. Quero que lutes pelos sonhos. Quero que ames. E que não esgotes o amor
em quem não te merece. E, se pelo caminho, amares dez ou vinte ou um milhão de
vezes, não tenhas medo… é pior não saber amar do que acreditar no amor, vez
após vez. E, um dia, por entre as tentativas e erros do amor, alguém que te
respeita e te merece, alguém que não te diminui nem te castra, vai aparecer e
ajudar-te. A abrir as asas. Essas que não sabes que tens. E a voar.
Amo-te e tenho orgulho em ti. No talento que te move os
passos. Na imagem que te distingue, nos corredores da vida, de tantos quantos
pisam flores. No interior onde se espelha o arco-íris. Tenho orgulho em ti.
Porque me fazes ser uma pessoa melhor. E me fazes querer um mundo melhor.
Amo-te e sei que não sabes a extensão do meu amor. Amo-te e
sei que não sabes que já me salvaste a vida. Amo-te e sei que não sabes que és,
também, a vida que me salvaste. Amo-te e tenho, ao olhar para ti, acesso à
única paisagem que nenhum homem e nenhum Deus pode destruir.
Há céus e mares. E há os teus olhos. E há um coração no meu
peito que bate. Mas não é só meu. É nosso. Incondicionalmente.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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