Talvez seja porque eu acho que o amor só pode existir onde
há loucura. E tu julgues que tudo tem peso e medida. Ou talvez seja porque te
tentavas encontrar onde eu ainda queria estar perdida. E talvez more nessas
pequenas, enormes, gastas ilusões de que o mundo se alinha para dar
oportunidades toscas de felicidade.
A minha visão do amor cria uma versão desta história que é
só minha, falando de pontos vibrantes, onde os sentidos eram lava e ora
queimavam de paixão, ora explodiam de raiva. Eu aprendi a ser na cama, como na
vida, tudo ao mesmo tempo. Eu aprendi contigo que há pontos certos que apenas o
são entre lençóis. Mas eu não posso ser eu apenas quando os corpos se dão.
Também o sou quando o corpo me pertence e o futuro é todo incógnito. E há
muralhas ocultas no tanto que eu posso ser, ardendo de paixão por um mundo que
abomino.
Não faço sentido. Não sinto que possa – ou deva – fazer
sentido. Acredito que também o amor não faz. Sentido. São só sinapses
descontroladas. Electricidade pura. Raciocínios pouco eficazes. E uma escolha
que se aceita e questiona mil vezes.
Eu não fui. Não sou. Talvez nunca venha a ser. Essa balança
onde tudo se pesa e tudo tem medida concreta. O que sou tem nuances. E
extremos. E excessos. E faltas. Acima de tudo, faltas. Tantas que não as
pudeste aceitar. Tantas que te tornaste uma delas. A maior delas.
Dizes que me amas. E eu digo que te amo. Mas não me amas
como eu te amo. Não conheces nem desejas o amor como eu o sinto. Tu e o teu
amor são missas de equilíbrio. Fazem adventos e missões de peregrinação na
ideia de que tudo tem uma fórmula certa, um tempo definido, um princípio
válido.
Eu levo o meu amor de arrasto aonde vou. Caminhe ele a meu
lado ou venha de rojo, sangrando. Dele, não espero outra coisa senão a loucura.
Sei que ele grita à meia-noite. Que chora com filmes animados. Que se debruça
em precipícios. Diz que quer morrer às terças-feiras, depois de ter passado as
segundas a ver-se ao espelho, contemplando e amando a luminosidade dos seus
reflexos. E pouco se importa com a formulação frásica das ideias ou com todos
os seus sinónimos.
O meu amor não se pauta pelo equilíbrio. É uma corda bamba
sem estabilidade e que sonha, sabe-se lá porquê, que alguém (se) mantenha uma
rede de segurança sob os pés. No meu amor, a queda é inevitável. E a dor
também.
Um amor avulso, com peso em escrutínio e um equilíbrio
perfeito com a norma será certamente amor. Talvez seja o único amor que me fez
amada. Mas não é um amor que eu saiba amar.
Eu sou fruto das árvores da insanidade. Amo com tudo. Apesar
de tudo. Além de tudo. E para sempre.
O meu equilíbrio é pouco.
Tropeço nos meus próprios pés e caio quase sempre.
Levanto-me. Continuo.
Mais ou menos ferido, o meu amor também!
*Imagem retirada da Internet
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