Também sou filha da noite. Sombra
de estrelas e irmã dos ventos. Serva das marés e cortesã das horas. Vivo no
cativeiro da Terra, humildemente acorrentada às maravilhas do mundo e às
vontades insaciáveis do meu coração.
Ouve e vê com cuidado. Ouve mesmo esse silêncio
que julgas despojado de tudo. Vê mesmo esse espaço desfeito onde nada se ergue
e nada se assume. O vazio é apenas feito de imaginação mortal. Vivemos rodeados
de tanto quanto nos cabe nos sonhos. Somos apenas cegos e surdos. Incapacitados
pelos olhos cheios de ciência e as mãos fechadas em redor de teorias.
Também sou filha das trevas. E
são as trevas que trago no meu olhar
despido de luz. Mas, não duvides: ainda amo o sol. Amo-o como se ama
alguém muito querido que sabemos que não
podemos ter. Na certeza insensata de que estaremos sempre no outro extremo
da vida. Na saudade que vem da consciência de que toda a luz tem sombra.
Não tenhas medo! Faço parte da
escuridão e corro com os ventos, atiço as marés e transformo segundos em anos
que não passam, que congelam e permanecem. Mas estou aqui e também sou menina.
Também sou criança. Também sou tua... E morreria para que não tivesses medo de
nada. Morreria para que fosses feliz.
Sim. É verdade. Eu sou o que fica
sombrio atrás do brilho de uma estrela. Sou o que fica invisível depois da onda ter rebentado na praia. Sou o que
desvanecesse no ar quando a brisa sopra, no último rasgo de sol. Sou o que fica
esquecido por entre memórias que se esbatem e o rosto que se perde na multidão
que percorre as ruas.
Também sou filha da noite e irmã
dos ventos e serva das marés. Mas, na maioria dos dias, sou apenas uma
rapariga. Uma rapariga quebrada e indolente, apaixonada por uma luz que se
afasta um pouco mais a cada segundo. E o Inverno brota-me no peito,
acorrenta-me ao gelo dos sentidos e torna-me escrava do meu amor.
Sou filha da noite mas não lhe
pertenço. Não sou dela e não sou minha. Vivo cativa, escravizada, de rojo aos
pés do amor. Pertenço ao meu coração. Pertenço ao sentir insensato que me corre
nas veias. E estou só... porque nenhum vento e nenhuma maré assume o negrume da
dor que trago no peito. O negrume que vence a noite e as trevas... e onde não
há luz nem sombra... mas apenas solidão.
Marina Ferraz
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Parabénssssssssssssssssssssss!
ResponderEliminarSoberbo!!!!!!!!
Gostei muito, está realmente muito bom :)
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