"É querer abraçar-te, não podendo com os braços, com
palavras." (Helder Godinho)
Andam por aí poetas. Passam por nós nas ruas. Frequentam os
nossos cafés. Lêem os mesmos jornais. Têm empregos, como nós. E carregam as
palavras às costas, invisíveis, qual saco de memórias fragmentadas, à procura
de lugar para viver.
Andam por aí poetas. Passam à nossa porta. Às vezes batem.
Às vezes convidamo-los a entrar. Têm mentes despertas e conturbadas. Têm sede
de saber e pensam em rimas soltas de versos que nem o são. E, às vezes, dizem
em voz alta poemas inteiros que tomamos por conversas naturais. Mas não o são.
Nunca o são.
Caminhando pelas ruas onde nos fazemos gente, os poetas
enlouquecem no devaneio das horas. Não sabem se alguém os ouve. Não sabem se
alguém poderia alguma vez ouvi-los. Mas vão cantando as suas estrofes de ferro,
inquebráveis e cheias de mágoa. Às vezes, nem as escrevem. Às vezes nem as
dizem. Apenas as pensam. E ninguém lhes rasga o corpo em busca dessa loucura
inconstante que fica além da barreira.
Andam por aí poetas. Aparentemente, não são diferentes de
nenhuma das outras pessoas. Parecem normais. Sãos. Pessoas. Mas, na verdade,
são os mendigos da arte. São os estudiosos do medo. São os indigentes do tempo.
E, dentro das suas cabeças, há mais do que listas de compras e problemas
quotidianos. Preocupam-se com os sentimentos, com os sentidos, com as emoções.
Listam soluções. Tentam salvar os mundos. O nosso e os deles, tão maiores, tão
mais cheios, tão mais completos.
Andam por aí poetas. Não os vemos, de os olhar. Não os
entendemos, de os ouvir. Mas eles andam aí. E apaixonam-se, facilmente, por
outros poetas, cujos corações, igualmente quebrados pela mágoa dos pensamentos
dispersos, se quebram a tempo de se emendarem em conjunto.
Andam por aí poetas. Não os sabemos poetas. Muitas vezes,
eles não se sabem poetas. Escrevem poesia sem rima nem verso. Escrevem poesia
que não se escreve. Dizem a coisa certa, no momento certo ou no errado, porque
não têm medo das palavras... E ouvimos, (quantas vezes em silêncio?!) sem
sabermos que a poesia que cantam é a mesma que ecoa dentro de nós.
Andam por aí poetas. E, às vezes, não podendo abraçar os
corpos, eles abraçam as almas, dão as palavras, os sentidos, as razões... Não
os vemos e não sabemos quem eles são. Têm forma de gente e vidas iguais à
nossa.... Não os notamos. Mas, quem por eles é tocado sabe: sabe que andam por
aí poetas... e que é por isso que o mundo ainda tem algo de bom.
Marina Ferraz
* Imagem retirada da Internet
amei desta linda leitura de alma nos encantam o derramar das palavras eloquentes ,que em momentos de inconstacia derradeira sentimos o lindo derramar lagrimejante desta alma sonhadora....
ResponderEliminarLindo! Perfeito!
ResponderEliminarPerfeiro como sempre :)
ResponderEliminarAdoro quando leio sobre poetas,incrível.
Parabéns querida
Beijinhos Jenny ♥♥♥♥