Ergui os braços aos céus e rodopiei, com os pés assentes na areia húmida e fria. No céu cintilava um universo de estrelas e a lua reflectia, incompleta e crescente, no alvoroço de um oceano feito em lágrimas.
Não fiz caso das pessoas que passavam na rua, de sobrolho franzido, amaldiçoando o Inverno. E, talvez por isso, de alguma forma, elas também não perderam tempo a olhar para mim: criança adulta ou mulher inocente, dançando ao som das ondas. Feliz, completa. Tão, tão feliz.
A memória inconstante chegava e partia como as ondas, firmes e difusas, em marés de saudade. E o vento, vindo desse Norte agreste, veio dançar comigo, trazendo o aroma adocicado de terras distantes.
Um dia disseste-me para abrir as asas. Para as abrir com a simplicidade de ser eu. E isso significava que sabias que eu podia voar. Hoje danço, porque compreendi a verdade. Tive sempre as asas abertas, da mesma forma que te tive sempre, qual corrente de aço, agarrada aos pés. Com o tempo deixei de precisar de voar. Acorrentada à saudade, à solidão, ao medo, à dor… a todos esses sentimentos que deixam de ser tristes e me acolheram nos braços.
Antes, fiz da dor o meu Abrigo. Mas hoje danço. Ergo os braços aos céus e mergulho os pés na água fria do oceano. Danço. Danço de asas abertas e sem temor. Já não te tenho, qual grilhetas pesando. Tenho apenas as memórias sólidas e concretas. Distantes... desertas de ti.
E, rodopiando, de asas abertas, dou por mim a subir aos céus de possibilidades que nem sabia que havia em mim. Descubro que há uma beleza subtil na alma que julgava que não tinha. Descubro que o lugar vazio de onde arranquei o coração foi de súbito preenchido pela certeza de que poderei sempre amar. Talvez não ame da mesma forma. Mas posso amar com a mesma força, o mesmo alento, a mesma paixão. Posso amar tanto quanto o amor diz.
Fada de Inverno num conto misterioso chamado vida, descubro voando que viverei sempre na paz de ter cumprido todas as promessas que te fiz. Na paz de saber que não espero nem desejo que cumpras a tua.
De asas abertas, e sem olhar o chão distante, descubro que vale a pena ser a pessoa que ama, apesar da mágoa. Mesmo que não resulte. Mesmo que magoe. Vale a pena ser a pessoa cujo coração bate, cuja alma permanece intacta, cujos sentidos permanecem sólidos.
Esperei. Julguei que era por ti. Não era. Esperei pelas asas. Esperei por abrir as asas. E hoje sei que valeu o medo, o sofrimento, a mágoa. O mundo é mais bonito visto do alto... e só pode ter asas quem tem coração.Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Aproveito para deixar uma nota sobre a minha participação, enquanto autora, no Festival da Canção '14, cuja semi-final, a 8 de Março, será transmitida pela RTP.
Sou a autora da letra da canção nº 4, "Mais para dar" (composta por Helder Godinho e interpretada por Carla Ribeiro). Não deixem de ver, ouvir e de votar em nós! Qualquer voto é fundamental para nos ajudar a chegar à final de 15 de Março. Uma só chamada pode fazer a diferença! :)
lindoooo!!! ANDEI NA CARONA DESTE SONHO ENCANTADO MUITO BOM...NESTE TEU CARROCEL DE SONHOS VOU VIAJANDO... BJO NO CORAÇÃO
ResponderEliminarPerfeito como todos que fazes,minha parte preferida é " Esperei pelas asas. Esperei por abrir as asas"
ResponderEliminarSimplesmente maravilhoso.
Parabéns querida
Beijinhos Jenny ♥
Tenho gosto,muito bom
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