As pessoas têm medo de falar de sexo. Fazem dele tabu. Dizem
que não andam por aí, a dar-se e a vender-se nas esquinas. Condenam quem o faz.
Riem de quem não tem pudor. E caminham pelas ruas de rosto erguido, alegando a
pureza incansável do corpo imaculado que só se dá num silêncio censurado, de
janela fechada e estores batidos. Mas que ama? Toda a gente diz que ama sem
pudor, ame ou não. O vocábulo amor esvaziou-se de sentido e tornou-se palavra
de uso. No meu tempo, é assim. As pessoas envergonham-se da partilha do corpo e
escondem-na, enquanto a palavra amor se prostitui livremente nos recantos das
conversas.
A palavra amor prostitui-se. Anda por aí nas ruas, nas
esquinas. Entra em qualquer casa, de qualquer maneira, sem fazer caso de nada.
Entranha-se nas promessas falsas, na vontade de uma companhia fácil, no desejo
de luta contra a solidão. E não precisa de muito para se dar. Dá-se em troco de
muito pouco. Em troca de quase nada. A palavra amor prostitui-se, neste tempo
recatado, onde se julga de fácil qualquer pessoa que não tema o assumir do
desejo.
Hoje em dia diz-se "amo-te" com a mesma facilidade
com a qual se pede um copo de água. A palavra espalha-se, na voz de crianças
que não têm idade para falar de amor, de adolescentes que não têm vontade de
esperar, de adultos que não têm tempo para amar. E prostitui-se, assim, de uma
forma simples e ligeira. A palavra amor é fácil, compra-se, vende-se,
oferece-se. Prostitui-se. E ninguém lhe paga o suficiente.
Se, em tempos, poetas insistiam em definir o amor das formas
mais complexas, sem encontrar respostas que julgassem aceitáveis, a verdade é
que, hoje, é bem mais simples. "Amo-te", no nosso século, equivale a
quase tudo. Tem sinónimos plurais, diversos, vazios. Em casos extraordinários e
muito raros, "amo-te" significa "amo-te". Mas, normalmente, amo-te significa
"apetece-me dormir contigo",
"dá-me um jeitinho sentimental", "estou farto de estar
sozinho" ou "acho que gosto de ti". Mas não se usam os
sinónimos. Claro que não. "Amo-te" soa sempre bem. Soa sempre melhor
do que as expressões unívocas.
É de amor que se deve falar, mesmo se o amor for luxurioso.
Porque falar de sexo fica mal, não é próprio de uma menina, não é politicamente
correto. E soma-se às incorrecções o desejo, o prazer, o estímulo. Fala-se de
amor. Mesmo quando o amor é só carne e, sendo assim, não é amor. Mas fala-se de
amor. Porque o amor (essa mentira que raras vezes se torna verdade) não causa
transtorno a quem ouve nem embaraço a quem diz.
As pessoas envergonham-se de falar da partilha do corpo.
Mesmo quando a fazem e a sentem e a querem. Mas falam abertamente de amor,
quando, tantas, tantas vezes, ele não passa de uma mentira elaborada. No meu
mundo, a verdade importa menos do que a convenção. E a palavra amor prostitui-se
por aí. Torna-se obscena, ridícula e descabida. Perde-se-lhe o sentido nas
esquinas do engano. Mas não faz mal. De amor, pode-se falar... pode-se falar de
amor, mesmo se o amor for outra coisa, mesmo se o amor for a mentira inerente
aos corpos que se perdem nos lençóis. De amor pode-se falar! Mas de sexo? De
sexo não...
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
SEXO X AMOR
ResponderEliminarRespiração,
pernas,
toque,
beijos,
peitos,
pelvis,
gozo, gozo, gozo...
E o amor paira no ar,
[em contraposição aos sentidos!
Olá. Conheci seu site por meio da página Literatura É Arte. Gostei bastante. Também mantenho um blogue voltado, sobretudo, para resenhar (HQ, romances etc.). E outro onde posto produção minha (poesia, desenhos, fotografias). Se estiver a fim de parceria, é só conhecer meus espaços. Se gostar de algum, pode seguir e me avisar, que seguirei de volta. Abraços!
ResponderEliminarSite de Resenhas: http://kleitongoncalves.blogspot.com.br
Site de Poesia: http://poesias-ilustradas.blogspot.com.br
Na semana disse que oferecia o meu corpo, esse obedece a estímulos, nada mais.. Agora a mente essa não a posso dar tao livremente.
ResponderEliminarNão sei o problema de não se falar de sexo, é uma necessidade fisiológica, como comer (ou quase)
Agora sobre amor, banalizaram a palavra tirando-lhe o seu valor