terça-feira, 15 de setembro de 2015

Danças na floresta


O vento. Pagão. Incontrolável. Soprando por entre as árvores. Minhas irmãs. E o canto inaudível da Lua. Cheia. Olhando para nós e para as nossas danças na floresta.

Pergunto quem sou. Sem palavras. Movimento. Suor. Coração descompassado. Pergunto quem sou. Ao ar. À brisa que me acolhe os passos e os eleva do chão. E digo-lhe. Ao Ar, às sílfides, ao vento: Às vezes sou como tu. Às vezes, queria ser mais como tu. Ter a tua calma. O teu equilíbrio. Ele fala. Responde. Não são palavras que qualquer um possa ouvir. Mas eu ouço. "És como eu.", proclama. E eu sei que sim. Que é verdade. Danço. Ao redor da fogueira. Pergunto quem sou.

O rio. Pagão. Seguindo cursos marcados. Concretos. Por entre as margens. Sobre as rochas. Debaixo do mesmo céu. E a chuva. Caindo em intervalos. Abençoando-nos e às nossas danças na floresta.

Pergunto quem sou. Sem palavras. Espaço. Amor. Coreografia. Pergunto quem sou. À Água. Ao rio, às sereias, ao mar. E digo-lhe: Queria ter a tua pureza e o teu rumo. Por vezes, gostava de saber onde vou. Ela fala. Responde. Muitos não ouviriam o seu canto. Mas eu ouço. "Tens em ti a pureza, tens em ti o rumo". E eu sei que sim. Que é verdade. Danço. Ao redor da fogueira. Pergunto quem sou.

A fogueira. Pagã. Quente. Vida. Morte. Intervalo. Chama. Cinza. Gémea, dançando connosco esta valsa sem compasso, nem tempo, nem passos pensados. Iluminando os nossos passos e as nossas danças na floresta.

Pergunto quem sou. Sem palavras. Corpo. Paixão. Dar e receber. Sentir. Pergunto quem sou. Ao Fogo. Aos dragões. Às labaredas. E digo-lhe: Queria ter a tua força. A tua intensidade. Por vezes, gostava de ser dona de mim. Ele fala. Responde. A sua voz seria incompreensível para muitos. Mas eu ouço. "A chama mais forte brilha dentro e não se vê. Mas está.", acredita. E eu sei que sim. Que é verdade. Danço. Ao redor da fogueira. Pergunto quem sou.

O chão. Pagão. Firme. Rochoso. Feito de grãos compactos. Sob os pés. Sob a Lua. Sob a fogueira. Recebe-nos os passos. Dá-nos o solo sobre o qual traçamos as linhas de sonho. Permanece. Fica por nós e pelas nossas danças na floresta.

Pergunto quem sou. Sem palavras. Gesto. Silhueta. Sombra de mim e sobre do que antes fui. Pergunto quem sou. À Terra. Aos elfos. Aos grãos de areia. E digo-lhe: Às vezes sou como tu. Mas queria a tua estabilidade. A força de ser pisada sem ceder. Ela fala. Ninguém a ouve. Eu escuto. "Não há força que não tenhas nem firmeza que te falte. És como eu". E eu sei que sim. Que é verdade. Danço. Ao redor da fogueira. Pergunto quem sou.

Quem sou? Sou o Ar. Sou o Fogo. Sou a Água. Sou a Terra. Anciã de espírito. Donzela de idade. Pagã como elas. Livre como elas. Dançando, descalça, ao redor da fogueira. Quem sou? Não sei. Não me conheço. Vou-me descobrindo, aos poucos, nestas danças na floresta.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

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