Abraça-me quando eu for inconveniente. No meio das frases
impensadas que te fazem perguntar qual a razão pela qual, no meio de tantas
pessoas, me escolheste a mim. Abraça-me. Quando eu for intolerante. No centro
dos gritos de descontrolo e das palavras de injustiça que te ferem a alma. Essa
que é invisível e infinitamente grande. Abraça-me. Quando eu for impossível. No
centro dos gestos descuidados de acusação. De violência. De ódio. De
destruição. Abraça-me.
Beija-me quando eu for destrutiva. Por entre os traços
cortantes da dor infligida que te faz questionar qual a razão do teu coração
preferir a dor da minha presença ao desconforto pacato da solidão. Beija-me.
Quando eu for egoísta. Quando, podendo pôr-nos à frente da batalha da vida,
optar por me proteger nos recantos do meu silêncio, negando-te o acesso ao
labirinto de mim. Beija-me. Quando te afastar, preferindo a companhia dos
enganos e das mentiras que se assumem como verdades universais nos espaços
brancos da minha imaturidade. Quando os meus lábios secarem de amargura, no
centro das palavras que apenas trazem o azedume do ódio pela vida. Beija-me.
Deseja-me. Quando o meu corpo se afastar do teu, à procura
do conforto da distância. Quando eu for amante da solidão e irmã da morte.
Quando eu ceder ao cansaço e não te quiser. Deseja-me. Quando te recuso e nego;
e te faço sentir rejeitado na ânsia de pertencer apenas aos meus anseios.
Deseja-me.
Ama-me. Quando o pior de mim se anunciar à porta do olhar.
Quando a minha acidez te fizer duvidar de mim e os espaços entre nós parecerem
norma. Ama-me. Quando a minha loucura te gritar aos ouvidos que me abandones.
Quando a minha alma nevoenta te indicar que deves deixar-me junto ao abismo do
qual me salvaste. Quando a lógica te disser que me odeies. Ama-me. Quando não
houver motivo. Quando não houver em mim nada para amar. Ama-me. Quando eu te
der provas de que não mereço o teu amor. Amam-me. Sem razão. Sem motivo.
Ama-me. Assim. Quando não houver sentido no amor. Quando eu
não merecer. O amor não precisa de razões… e eu preciso de ti. Todos os dias.
Sempre. Sempre mais quando não mereço.
Abraça-me. Beija-me. Deseja-me. Ama-me.
Transforma a raiva em sorriso. Transforma a dor em
esperança. Sê a luz na escuridão de mim.
Por favor. Sempre. Para sempre. Mesmo quando não merecer.
Abraça-me. Beija-me. Deseja-me.
Ama-me.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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