Eu até te mandava calar! Mas para quê?!
Tenho na cabeça despedidas que nunca me deste. Ouço tantas vezes a palavra “adeus”, que ela perde o prefixo e sinto a alma tentada a orar. Não o faço. Os deuses andam cansados de pedidos humanos vazios e eu não tenho palavras minhas. Tenho só as tuas. Essa voz permanente no recanto da minha cabeça, onde se atropelam pensamentos por falta de espaço.
Às vezes, imagino as palavras da minha mente a viverem como morrem as pessoas quando há acidentes em locais com saídas de emergência insuficientes. Algumas, por sorte, aproveitam-me os dedos. As outras amontoam-se na porta da boca, num aglomerado que as esmaga, que as sufoca, que as impede de sair. Fecho os lábios e deixo que morram. Não tenho palavras minhas. Tenho só as tuas. As paredes gritam.
Há um sopro itinerante, que se estende pelas horas incessantes, na procura pelo sossego que não tenho. O eco permanente das promessas que eu já sei, desde os anteontens, que nunca serão cumpridas. E a saudade terrível que se imiscui com a dor, fazendo um cocktail perfeito do futuro que eu não quero... nem quero querer. E lá está a tua voz... tentando agarrar-me ao passado que eu quero... e também não quero querer.
Eu até te mandava calar! Mas para quê?!
As paredes gritam. Talvez por lhes ter espetado pregos, de uma forma tirânica e opressiva, sem realmente lhes perguntar se podia. Talvez sangrem e eu não vejo. Acontece-me muito. Sangrar sem ninguém ver. Chorar sem ninguém ver. Morrer aos bocadinhos, deixando cacos invisíveis pelo chão, sem que ninguém possa recolhê-los.
E as tuas palavras – porque esgotei as minhas - embatem contra a saída de emergência trancada dos meus lábios. Uma masmorra de dentes e lábios que sorriem. Lavo-as com pasta aromática e uma escova macia. Mas as palavras são fétidas e duras. Sinto-me maculada por elas.
A repetição das ideias causa-me desconforto. Adeus. Deus. Deu. Deu o que tinha a dar. Adeus. A distância entre a promessa que não se cumpre e a saudade é exatamente a mesma que existe entre a vida e a morte. Uma distância medida, não em milhas mas em segundos. As paredes gritam. E há as tuas palavras. Eu esgotei as minhas. Há só as tuas.
E, sabes? Eu até te mandava calar! Mas para quê?!
Calas-te sozinho!
E o que me incomoda nem é o silêncio...
... é a minha ausência de palavras.
... são os gritos das paredes.
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