Tenho o amor mais preconceituoso do mundo.
Não vou dizer que goste de o ter. Incomoda-me. Faz-me comichão. Leva-me, muitas vezes, a chamar nomes pouco simpáticos a mim mesma, se calha ver-me no reflexo de uma montra. Detesto-o. Justamente porque se pinta todo de preconceito. Porque nem precisa dos estereótipos exacerbados para usar essa prenoção das coisas, que as reduz a muito pouco ou quase nada.
Quando algo nos incomoda desta forma só existem duas soluções à vista: o silêncio ou a palavra. O silêncio, filho da vergonha, é o que nos leva a fingir que o nosso amor pode ser algo mais do que preconceito. Usando dele e das suas virtudes, escondemos ativamente o estado tirânico que os sentidos nos assumem, decidindo que o mundo não saiba – não sonhe – que temos o amor mais preconceituoso do mundo. A palavra, usada como explanação, explicação ou justificativa, também serve de pouco quando os atos, totalmente independentes da língua e dos idiomas, se dirige para pontos cardeais opostos.
Tenho o amor mais preconceituoso do mundo. Medo de me calar, para o esconder, e de sucumbir aos seus ímpetos. Medo de falar, para me justificar, e de ouvir-me num revirar de olhos, julgando-me em primeira mão pela grande imbecilidade de transportar em mim um sentimento tão déspota, egoísta e tirano.
Às vezes, deixo passar o tempo. Umas horas. Uns dias. Umas semanas. Uns meses. Tento ativamente pensar noutra coisa qualquer além do amor, para ver se, esquecido numa das gavetas poeirentas do cérebro, ele migra do lado direito para o esquerdo e se racionaliza. Um amor de esquerda, penso eu, seria mais aberto à diferença.
O plano parece certeiro e a aplicação é eficaz, mas o resultado é nulo, falho, erróneo. Porque não pensar o amor é, ao mesmo tempo, deixá-lo livre para se construir nas suas ideologias redutoras. Quando volto a pensar nele, intensificou os idealismos que o tornam parte desse preconceito universalmente grande. Dou por mim a entendê-lo como irremediável. Incorrigível. Todo feito dessa emoção pouco sadia que desprezo.
É então que preciso de admitir. Mesmo sabendo que de pouco serve admiti-lo, se não consigo mudá-lo. Tenho o amor mais preconceituoso do mundo.
Entendam. É o amor mais preconceituoso do mundo. Não porque tenha problemas com raças, etnias, nacionalidades, idiomas, sexos, géneros, deficiências, estados de saúde ou problemas de mobilidade. Mas porque, no momento de reduzir, nem considera quaisquer destas variáveis.
Detesto sabê-lo. Mas é preciso saber. E, sabendo, é preciso admitir. Tenho um amor preconceituoso. O amor – diria eu - mais preconceituoso do mundo. Dono de um só preconceito e que é, sem sombra de dúvida, o maior de todos porque exclui, aparta, renega e discrimina quase todos.
É o amor mais preconceituoso do mundo.
Se não fores tu, não serve!
Bolas. Esse gajo, preconceituoso não tem jeito. Sempre cheio de preconceitos!!! Deve ser um gajo rico de. Gostei,sem preconceito. FigasAbração
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