Olá. Esta é a minha história. Era. Não é. Foi. Agora é a vossa. Desafio-vos a que tentem que não seja. Vossa. Mas é. Eu escrevi a minha história muitas vezes e vocês nunca a leram. Leram? Não! Não leram! Leram as vossas... Mas não se preocupem! Eu gosto mais dessa vossa história do que da minha. A minha não era para ser. E a vossa é. Eu escrevi uma e vocês deram-me milhares. Superam-me em todos os passos. Concluo que não gosto muito das coisas que eu escrevo. Mas gosto muito das coisas que vocês leem. E é por isso que escrevo as histórias que vocês criam. Adoro. Adoro. As vossas histórias.
Todo o autor quer. Dizer. “Era uma vez uma árvore”. Ser dono dessa vez que era. Mas essa vez são vezes. E a árvore, que era, quem sabe, um chorão no meio do rio com as folhas a beijar a corrente, é agora um carvalho, um pinheiro, uma azinheira. Nenhum poeta escreve florestas como um leitor. Ainda mais se o leitor for criança e criar, na imagem desse “Era uma vez uma árvore” uma que seja pinheiro selvagem e dê maçãs vermelhas envenenadas.
O texto é um lugar de não existência. Todo o autor imortal foi uma impressora de pensamentos que foram personagem na mente dos outros. Matamos todas as personagens quando as transcrevemos. E ela renasce sempre outra quando alguém a lê.
Toda a minha vida dedicada às palavras. Um compromisso que estabeleci aos seis. Uma troca justa, para que mais trinta houvesse. E para que desses trinta eu pudesse trazer imortalidades. Equivoquei-me com a ideia de que podia criar alguma coisa. Verti-me no papel e vi que todas as minhas palavras eram borrão de psicólogo, exibidos uma vez por sessão para garantir que nada demasiado obsceno sai dos olhos dos outros. Tento explicar que as palavras eram obscenas, antes de serem borrão. Que eram mórbidas, também. Esventrei sonhos e arranquei entranhas com as unhas enfiadas nos globos oculares da alma. Digo. Ninguém quer saber.
E vejo uma lágrima ser rio. Verto o mar todo numa poça de mijo de um cão vadio ao lado da roda de um trator agrícola citadino. Descrevo o smog que vira peste e pústula na pele. Sorvo o pus com as agulhas de arroz ... Ouço falar do belo. Desisto. Fico à espera que me digam que sou trevas. Digo que sim, mas vivo como se fosse trevo. À espera da sorte. Da morte.
Faço a contagem decrescente. E outros dizem parabéns. Gosto mais dos parabéns do que da contagem. Gosto mais da celebração do que do momento inevitável onde todos os possessivos padecem.
Não vou levar textos para o caixão. São todos vossos. Toda a minha vida dedicada às palavras. Para ser das palavras. Para que palavras me velem na hora da vela acesa. Cânticos com letras que escrevi. E são vossas. Poemas com versos que escrevi. E são vossos.
Não sei se tenho dentro órgãos sadios. Mas se tiver. São vossos.
Concluo que não gosto muito das coisas que eu escrevo. Mas gosto muito das coisas que vocês leem. E é por isso que escrevo as histórias que vocês criam. Adoro. Adoro. As vossas histórias. Adoro o pinheiro que dá maçãs envenenadas. Foi dele que arranquei a maçã que trinquei quando disse “quero ser escritora”.
A maçã rola pelo chão e para dramaticamente em frente aos meus olhos vítreos...
A maçã era dulcíssima!
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