terça-feira, 18 de julho de 2023

Pensamentos soltos I

 


Fotografias de Yolanda Faleiro

Existem tantas perguntas como gotas de água. E há quem construa pontes, para não se afogar nos oceanos de dúvida. Eu entendo e não critico. Questionar ocupa o tempo escasso da vida e sobra pouca vida depois do pensamento. Talvez eu devesse usar as pontes. Os aviões. Evitar ensopar-me nas questões do mundo. E era suposto, não era? (É certamente o que dizem as vozes!) Era suposto eu começar, aos poucos, a fugir da filosofia. Mas embarco nela.

 

 

 

Florestas de betão. Rios de efluentes. Chuvas ácidas. O ciclo sem fim é o ciclo para o fim. Beijamos o rosto das crianças, ainda enrugadas dos fluídos uterinos e vermelhas do esforço. Dizemos que é ali que começam a morrer. E sorrimos.

 

Do choro gritado que marca a primeira linha e até à linha do horizonte que marca o limite do tempo, aprende-se a não chorar. Ouço, por vezes, que há pessoas que fingem a tristeza. Talvez. Mas quão residual é essa matéria falsamente triste junto dos múltiplos atores que discursam falsas alegrias?

 

Ocupar-me-ia a olhar as cidades em busca de autêntica alegria. Mas já me cansei do choro engolido e calado, que cria tumor na garganta. Não faço questão de ser repositório das mentiras brancas do mundo.

 

Não tenho respostas e fazem-me demasiadas perguntas. Acham que eu sei. Porque falo. Mas eu não falo porque sei. Falo para não se formar esse cancro de silêncio que tira tantas, tantas vidas. Tudo o que digo. Tudo. Vida e Morte e Amor. Essas palavras capitais. Tudo o que digo é pensamento de maré. Indo e vindo em ondas, erodindo as minhas certezas como rocha. E fruto, não duvidem, de mares nos olhos. Água e sal – disse alguém – é a cura para tudo. Nunca aprendi essa insidiosa tarefa de não chorar.

 

Mergulho no mar e na filosofia. Sempre esperando o choque térmico. O desconforto. E a paz que vem da imersão. E a quebrantada sensação que acomete o corpo no entorpecimento das certezas.

 

Existem tantas perguntas como gotas de água. E há quem construa pontes, para não se afogar nos oceanos de dúvida. Eu entendo. Mas há uma linha no fundo do mar, que se afasta quando navegamos. E ainda que haja pontes e aviões. Locais de porto seguro. Ninhos nas florestas de betão onde se empilham gentes. Eles não são Verdade.

 

Tenho todas as perguntas do universo contidas no desconforto do mergulho gélido.

 

As perguntas não têm resposta.

 

Mas sou humana.

 

As perguntas não têm resposta.

 

Mas a resposta é (A)mar.


Marina Ferraz




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