Trilhei muitos caminhos de exuberância. Ociosidade. Luxo. Aparato. E houve muitos risos presos nesse excesso. Não minto. Houve. Houve o prazer dos sabores mais fortes. Das músicas ininterruptas. Dos cocktails onerosos. Das danças exaltadas. Dos tetos em frescos e pormenores leves com arestas debruadas a ouro. Mas tudo isso é manobra de diversão na alma. Mata a gula de vida. Não alimenta. No fim, a resposta foi. É. Sempre a mesma.
Fecho os olhos nessa exuberância do simples. É um luxo diferente. Um aparato diferente. Feito do sabor das amoras silvestres, filhas das silvas que ninguém arrancou. Feito das canções permanentes na voz de seres cuja vida ninguém ceifou. Feito do sumo da águas frias e férreas. Feita das danças das árvores e dos remoinhos de terra seca junto ao solo. Feito de tetos de céu e de pormenores leves com arestas debruadas a nuvem e flor.
Saciada, a alma reencontra-se consigo mesma. Redescobre que tem vida dentro. Rejubila com a simplicidade das coisas. Fala do Divino. E é parte dele.
As palavras parecem todas poucas. As que sobram – essas poucas – parecem gastas. Porque a Natureza se renova a cada segundo e a linguagem não. Vai lenta e não tem senão ajustes feitos por eruditos que nunca souberam expressar o simples do idioma mundano e natural.
Quero fundir-me com a terra. Deixar os pés ganhar raízes. Despir-me de roupas e conceitos sociais. Ser. Só ser. Parte deste universo que é pleno e justo. Pleno e bom. Pleno.
Não quero matar a gula da vida, da alma, mas alimentá-las. No fim, a resposta foi. É. Sempre a mesma. É o simples. É no simples. Que está a abundância. É nele que mora o derradeiro luxo. O pássaro canta. A cascata cai. A água corre. O sol aquece-me o rosto. Ganhei, penso eu, a lotaria do mundo.
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