Inventa outra mentira. Uma que me faça chorar. Uma que me
faça virar costas e discutir com o sol. Uma que consiga tirar-me do sério, que
me faça responder-te mal, com cinco pedras nas mãos e um "adeus" de
corrida.
Inventa uma mentira melhor. Uma que me faça bater a porta.
Uma que me faça fazer as malas e fugir de ti. Inventa uma mentira que me
arranque o sorriso tonto da face, uma que me fira de uma forma tão profunda que
eu sinta as lágrimas a correr nas veias em vez de sangue.
Inventa outra mentira. A que quiseres. Inventa a coisa mais
simples, a mais complexa. Inventa algo com ou sem sentido. Imprime na voz o tom
de certeza inabalável e mente-me, com os olhos firmes e o rosto expressivo de
quem não mentiria jamais.
Mente-me. Não vou pedir que sejas a verdade de ti. Não quero que aniquiles a
tua natureza e que me digas somente a verdade a todo o momento. Mas, se fores
mentir, inventa uma mentira melhor. Uma que eu não perceba. Uma que eu perceba
e não me magoe. Uma que eu perceba e que me faça odiar-te. Tanto faz. Mente-me,
se é o que queres mas, por favor, se for para me mentires, inventa uma mentira
melhor do que essa com a qual me enches os dias e as noites e os ouvidos. Estou
cansada. Inventa outra mentira. Qualquer outra, desde que eu não a queira ouvir.
"Amo-te!" é uma mentira injusta. É uma mentira que
se faz verdade na sombra dos meus desejos. É uma mentira que faz vibrar o meu
corpo e bater forte o meu coração. É uma mentira que dizes, naturalmente, mesmo
sabendo que não é verdade. O teu amor morreu nos teus olhos. O teu amor morreu
no teu toque. O teu amor morreu. Mas manténs viva a ideia desse amor nos teus
lábios e sussurras-me ao ouvido, dizendo que me amas, porque sabes que o meu
amor está vivo.
Por favor, inventa uma mentira melhor. Uma mentira que não
me faça sentir especial. Uma mentira que eu não queira ouvir a cada segundo da
eternidade. Uma que não me faça agarrar-te nos braços, prender os lábios aos
teus, desejar que me mintas a tempo inteiro.
Inventa outra mentira. Uma mentira que não mova os meus dias
na ilusão de uma vida que nunca vou ter. Uma mentira que, quando se revelar
verdade, me faça ficar aborrecida e não derrotada. Uma mentira que, em sendo
descoberta, me faça desejar o nosso fim e não o meu.
Se algum dia esse "amo-te", hoje tão cheio de
indiferença, foi verdade, inventa uma mentira melhor. Eu ouço-te a mentira e
sorrio. Sei que é mentira e aceito. E seguimos juntos este trilho onde sei tão
bem que já estou só.
"Amo-te", a palavra ecoa, uma vez mais, mentida,
vazia, sem um brilho no olhar. E faço de conta. Faço outra vez de conta que
talvez, por detrás das camadas de indiferença, ela possa ser verdade. Então,
recosto-me nos teus braços, sorrio e, inebriada pela tua mentira, digo a
verdade e confesso que também te amo.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Perfeito como sempre! Amei.
ResponderEliminarEsse texto é tão profundo e faz alusão a algo muito comum que acontece nos dias atuais,aquele "Eu te amo" que é quase como um "Bom dia" forçado por algo que não é verdadeiro.
ResponderEliminarSenti-me desconfortável,porque nós nunca temos em mente qual é o "Eu te amo" verdadeiro,mas deve ser assim,para que não soframos.
Parabéns minha querida,é perfeito.
Beijinhos Jenny ♥
É incrivel como um texto pode agarrar em pedaços do passado e traze-los para a frente dos nossos olhos com todo os sentimentos inerentes... Palavras tuas que transmitem pensamentos meus...
ResponderEliminarBonito mana... beijinho*
Deixo o meu desejo de um Feliz Natal e de um 2014 sempre com criatividade!
ResponderEliminarBeijo